Trump quer manter cerca de 300 dos 10.000 funcionários da USaid
Presidente já havia colocado quase todos da agência norte-americana para desenvolvimento internacional em licença
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O governo do presidente Donald Trump (Partido Republicano) planeja reduzir o número de trabalhadores na USaid (Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional) de mais de 10.000 para cerca de 290 funcionários.
Os cargos que devem ser mantidos são ocupados por funcionários especializados em assistência humanitária e saúde, segundo o The New York Times. Funcionários da USaid submeteram ao Departamento de Estado longas listas de pessoal que consideravam essenciais para a execução de programas de salvamento de vidas e outras iniciativas críticas.
Na 5ª feira (6.fev.2025), funcionários da USaid foram informados de que aproximadamente 800 contratos administrados pela agência, bem como concessões, seriam cancelados. As medidas se deram 1 dia antes de quase todas as contratações diretas da agência, incluindo a lista de oficiais do Serviço de Relações Exteriores, serem colocadas em licença administrativa por tempo indeterminado.
Funcionários alocados no exterior terão até 30 dias para retornar aos Estados Unidos. O secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, que assumiu o controle da USaid como administrador interino na 2ª feira (3.fev), afirmou durante uma entrevista à Fox News, nesta semana, que a medida não representava que o país estava “se livrando” de fornecer ajuda externa.
“Mas, agora, temos uma insubordinação generalizada”, disse ele, acrescentando que os funcionários da USaid não cooperaram “completamente”. Ele declarou: “Por isso, não tivemos outra escolha senão tomar medidas dramáticas para controlar esta situação”.
Na 5ª feira (6.fev), Rubio reiterou a promessa de que seriam oferecidas isenções a alguns trabalhadores para minimizar as dificuldades do desligamento repentino. A promessa foi divulgada em um aviso publicado no site da USaid na 3ª feira (4.fev), que anunciava que os funcionários em todo o mundo seriam colocados em licença administrativa ou despedidos até esta 6ª feira (7.fev).
“Não estamos tentando perturbar a vida das pessoas”, disse Rubio aos repórteres enquanto viajava pela República Dominicana. “Não estamos sendo punitivos aqui. Mas esta é a única forma de conseguirmos a cooperação da USaid”, declarou.
Dois sindicatos que representam os funcionários da USaid entraram com uma ação na 5ª feira (6.fev) contra Trump, Rubio e o secretário do Tesouro, Scott Bessent, juntamente com a agência, o Departamento de Estado e o Departamento do Tesouro.
Na ação, eles argumentam que a redução de pessoal e o cancelamento de contratos de ajuda global são inconstitucionais e violam a separação de poderes.
“O que estamos vendo é uma apreensão ilegal desta agência pela administração Trump, em clara violação dos princípios constitucionais básicos”, afirmou Robin Thurston, diretor jurídico da Democracy Forward, uma das duas organizações de defesa que abriram o processo em nome da American Foreign Service Association e da Federação Americana de Funcionários do Governo, acrescentando que a administração “criou uma crise humanitária global”.
O QUE É A USAID
A Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional foi criada em 1961 foi pelo então presidente John Kennedy. Por decreto, ele unificou diversos programas assistenciais dos EUA. Até a chegada do republicano Donald Trump à Casa Branca em 20 de janeiro de 2025, atuava em mais de 100 países.
Nos anos 1960 e 1970, a agência era vista em países do Terceiro Mundo, como o Brasil, como um instrumento de interferência norte-americana em várias áreas, sobretudo para promover os valores políticos dos EUA. Nos movimentos de esquerda brasileiros, a USaid (cujo nome era pronunciado “usáid” por aqui) era considerada uma espécie de besta-fera do imperialismo.
A partir dos anos 1980 e, mais recentemente, nos anos 2000, a USaid passou a atuar em pautas mais ligadas a direitos humanos, meio ambiente e a favor de minorias. Houve uma aproximação de temas identitários e assim a imagem da agência mudou, passando a ser respeitada pelas esquerdas em países como o Brasil –e pelos militantes do Partido Democrata nos EUA.
O nome em inglês da agência é “United States Agency for International Development”. Os norte-americanos, em geral, soletram as duas primeiras letras “U” e “S” e, depois, falam o acrônimo final como se fosse uma palavra “aid” (cujo significado é “ajuda”). O slogan da agência, logo abaixo da sigla, é “from the American People”. É que US e aid podem ser traduzidos como “ajuda dos Estados Unidos” –daí o complemento “do povo norte-americano”.
O Poder360 adota em seus textos a grafia da forma como o acrônimo é mais comumente falado nos EUA: USaid.