"Zé, então e como está aquilo em Moçambique?..."

(Venâncio Mondlane em Tete, julgo que ontem) "Zé / Zezé, então e como é que está aquilo em Moçambique?...", perguntam-me diariamente amigos, agora que "as coisas" de lá se afastaram um pouco dos "escaparates" da imprensa. Substituídas por questões prementes, como a do deputado ladrão de malas - repararam como o Ventura, após o seu estupor inicial, agora aparece a reclamar-se "primeiro denunciante"?; as inanerráveis malfeitorias laborais dos bloquistas - face às quais o prévio vereador Robles surge como um simpático agente prenhe de empreendedorismo; a relativa inflexão de PNS sobre imigrantes - que põe os seus camaradas a clamar contra qualquer esforço alheio de adaptação às mundividências nacionais (a "cultura portuguesa", para se falar de modo simples) e o colunista-Expresso Raposo dispara(ta)ndo um lusotropicalismo actualizado: "para semos um V Império, que é um império-cais, onde o mundo pode atracar...", sim o homem escreveu isto; mais as demissões no núcleo governamental devido a trapalhadas privadas, recentes e actuais - mas quem escolhe estes tipos?; e, acima de tudo, o drama da "linguagem de rua" do treinador Lage. Já para não falar das minudências que ocupam os espaços mortos dos telejornais e comentários, o frenesim trumpiano, aquela maçada de Gaza, e a cansativa exigência de Putin em defender o "espaço vital" da sua Mãe Rússia, para se falar como a intelectual Mortágua... Enfim, com tudo isto a gente distraiu-se de Moçambique. Eles também já estavam a abusar da nossa paciência, é certo... Por isso as perguntas dos meus amigos, essa repetida "Zé / Zezé, então e como é que está aquilo em Moçambique?...", até porque interrompi a saraivada de postais sobre o assunto (os quais sublinho pela sua divulgação telefónica, para aborrecimento de alguns deles, presumo). Costumo responder que talvez seja melhor ouvirem o que dizem sobre o assunto os nossos antigos ministros, reciclados em facilitadores de negócios e até administradores das grandes empresas - "não lhes escrevas os nomes", "não te metas com esses gajos", "não ganhas nada com isso", avisam-me amigos, não tão juniores assim... Então, e para responder a esses amigos que se foram interessando pelos destinos daquela minha Não-Pátria, resumo o que sei: o candidato Venâncio Mondlane regressou ao país e anunciou três meses sem manifestações  (deu os consuetudinários "100 dias de estado de graça" ao novo governo). O partido Frelimo nomeou um novo executivo, com tantos membros oriundos do anterior poder que aparenta ser de continuidade ("uma evolução na continuidade", como diria Marcello, o original). A mortandade entre os militantes oposicionistas nas localidades - incluindo jornalistas - terá amansado, mas não abundam as investigações sobre a responsabilidade dos desmandos sanguinários dos últimos meses. Ainda assim, de quando em vez a polícia usa de violência seguindo-se represálias populares, algo significativo em especial aquando no Sul de país, antiga zona monopólio de implantação frelimista. Entretanto, a predisposição para entabular conversações com o oposicionista Mondlane, que fora enunciada pelo novo presidente, ainda não se concretizou, e segue o poder Frelimo na sua muito habitual postura esfíngica - "índica", como muitos referem, em particular os dirigentes socialistas portugueses quando em "visitas de Estado" e que agora se arrepiam ao ouvir falar de algumas características comuns às mundividências e práticas portuguesas (mais depressa se apanha um mariola do que um paraplégico, como é consabido...). Os velhos partidos oposicionistas, Renamo e MDM, que se haviam recusado a integrar o novo parlamento estão já a arranjar as micas, dossiers e as pastas de executivo para assumirem lugares. Nisto Venâncio Mondlane, que se autoproclamara "presidente do povo", encetou uma digressão, uma ronda de "presidências abertas", por assim dizer... Recebo imagens de uma curta visita ao Hospital Central de Maputo, causando um enorme júbilo entre os ali situados. E de gigantescos banhos de multidão em Bobole - perto de Maputo - e em Tete, a Norte. Situações que muito denotam com quem está o povo, a quem o povo apoia. Por mais que custe aos "empreendedores" lusos. E a alguns outros. Adenda: no sábado (dia 1 de Fevereiro, às 16 horas) estarei na biblioteca municipal de Setúbal, instituição que teve a gentileza de me convidar para falar sobre o meu livro "Torna-Viagem". E, quem sabe, pois dependendo do interesse dos que comparecerem, depois de tentar impingir a colecção de crónicas (2/3 das quais decorrem naquele país) poder-se-á falar um pouco sobre "como está aquilo em Moçambique". Se algum dos leitores do Delito de Opinião estiver nas cercanias será um prazer vê-lo por lá.

Fev 2, 2025 - 17:53
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"Zé, então e como está aquilo em Moçambique?..."

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(Venâncio Mondlane em Tete, julgo que ontem)

"Zé / Zezé, então e como é que está aquilo em Moçambique?...", perguntam-me diariamente amigos, agora que "as coisas" de lá se afastaram um pouco dos "escaparates" da imprensa. Substituídas por questões prementes, como a do deputado ladrão de malas - repararam como o Ventura, após o seu estupor inicial, agora aparece a reclamar-se "primeiro denunciante"?; as inanerráveis malfeitorias laborais dos bloquistas - face às quais o prévio vereador Robles surge como um simpático agente prenhe de empreendedorismo; a relativa inflexão de PNS sobre imigrantes - que põe os seus camaradas a clamar contra qualquer esforço alheio de adaptação às mundividências nacionais (a "cultura portuguesa", para se falar de modo simples) e o colunista-Expresso Raposo dispara(ta)ndo um lusotropicalismo actualizado: "para semos um V Império, que é um império-cais, onde o mundo pode atracar...", sim o homem escreveu isto; mais as demissões no núcleo governamental devido a trapalhadas privadas, recentes e actuais - mas quem escolhe estes tipos?; e, acima de tudo, o drama da "linguagem de rua" do treinador Lage. Já para não falar das minudências que ocupam os espaços mortos dos telejornais e comentários, o frenesim trumpiano, aquela maçada de Gaza, e a cansativa exigência de Putin em defender o "espaço vital" da sua Mãe Rússia, para se falar como a intelectual Mortágua...

Enfim, com tudo isto a gente distraiu-se de Moçambique. Eles também já estavam a abusar da nossa paciência, é certo... Por isso as perguntas dos meus amigos, essa repetida "Zé / Zezé, então e como é que está aquilo em Moçambique?...", até porque interrompi a saraivada de postais sobre o assunto (os quais sublinho pela sua divulgação telefónica, para aborrecimento de alguns deles, presumo). Costumo responder que talvez seja melhor ouvirem o que dizem sobre o assunto os nossos antigos ministros, reciclados em facilitadores de negócios e até administradores das grandes empresas - "não lhes escrevas os nomes", "não te metas com esses gajos", "não ganhas nada com isso", avisam-me amigos, não tão juniores assim...

Então, e para responder a esses amigos que se foram interessando pelos destinos daquela minha Não-Pátria, resumo o que sei: o candidato Venâncio Mondlane regressou ao país e anunciou três meses sem manifestações  (deu os consuetudinários "100 dias de estado de graça" ao novo governo). O partido Frelimo nomeou um novo executivo, com tantos membros oriundos do anterior poder que aparenta ser de continuidade ("uma evolução na continuidade", como diria Marcello, o original). A mortandade entre os militantes oposicionistas nas localidades - incluindo jornalistas - terá amansado, mas não abundam as investigações sobre a responsabilidade dos desmandos sanguinários dos últimos meses. Ainda assim, de quando em vez a polícia usa de violência seguindo-se represálias populares, algo significativo em especial aquando no Sul de país, antiga zona monopólio de implantação frelimista.

Entretanto, a predisposição para entabular conversações com o oposicionista Mondlane, que fora enunciada pelo novo presidente, ainda não se concretizou, e segue o poder Frelimo na sua muito habitual postura esfíngica - "índica", como muitos referem, em particular os dirigentes socialistas portugueses quando em "visitas de Estado" e que agora se arrepiam ao ouvir falar de algumas características comuns às mundividências e práticas portuguesas (mais depressa se apanha um mariola do que um paraplégico, como é consabido...). Os velhos partidos oposicionistas, Renamo e MDM, que se haviam recusado a integrar o novo parlamento estão já a arranjar as micas, dossiers e as pastas de executivo para assumirem lugares.

Nisto Venâncio Mondlane, que se autoproclamara "presidente do povo", encetou uma digressão, uma ronda de "presidências abertas", por assim dizer... Recebo imagens de uma curta visita ao Hospital Central de Maputo, causando um enorme júbilo entre os ali situados. E de gigantescos banhos de multidão em Bobole - perto de Maputo - e em Tete, a Norte. Situações que muito denotam com quem está o povo, a quem o povo apoia. Por mais que custe aos "empreendedores" lusos. E a alguns outros.

Adenda: no sábado (dia 1 de Fevereiro, às 16 horas) estarei na biblioteca municipal de Setúbal, instituição que teve a gentileza de me convidar para falar sobre o meu livro "Torna-Viagem". E, quem sabe, pois dependendo do interesse dos que comparecerem, depois de tentar impingir a colecção de crónicas (2/3 das quais decorrem naquele país) poder-se-á falar um pouco sobre "como está aquilo em Moçambique". Se algum dos leitores do Delito de Opinião estiver nas cercanias será um prazer vê-lo por lá.