WRC, Rali de Monte Carlo: Ogier faz história num duelo de escolhas certas

No Rali de Monte Carlo, a prova mais antiga e mítica da história dos ralis, voltou a escrever-se um novo capítulo de ouro no seu já lendário percurso. Conhecido pelas condições imprevisíveis e pelos desafios únicos das suas estradas alpinas, o rali testemunhou mais uma vez a genialidade de Sébastien Ogier, que alcançou um feito […] The post WRC, Rali de Monte Carlo: Ogier faz história num duelo de escolhas certas first appeared on AutoSport.

Jan 26, 2025 - 19:32
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WRC, Rali de Monte Carlo: Ogier faz história num duelo de escolhas certas

No Rali de Monte Carlo, a prova mais antiga e mítica da história dos ralis, voltou a escrever-se um novo capítulo de ouro no seu já lendário percurso. Conhecido pelas condições imprevisíveis e pelos desafios únicos das suas estradas alpinas, o rali testemunhou mais uma vez a genialidade de Sébastien Ogier, que alcançou um feito histórico: o seu 10º triunfo na prova, consolidando o seu estatuto como o maior vencedor de sempre no evento.

FOTOS @World

No passado, apelidava-se Walter Rohrl como o ‘Monte Meister’, mas a história tratou de mudar para os dois Monsieur Monte Carlo, primeiro Sébastien Loeb, com nove triunfos, agora Sébastien Ogier com 10.

A vitória do francês esteve longe de ser fácil, logo na 5ª feira teve sorte depois de ter sido apanhado numa armadilha, caiu para terceiro depois de um meio pião, mas a sua reconhecida mestria em sentir a aderência e ser o mais rápido possível que as condições permitem, tornou-o no mais vitorioso da história dos ralis no ‘Monte’.

10 vitórias no Monte Carlo não surgem por acaso.

Depois de vencer os primeiros dois troços da noite de quinta-feira, e do meio pião no terceiro, recuperou no dia seguinte e chegou à liderança na PEC8 de onde já não saiu até final. Ainda apanhou outro susto no sábado, mas terminou o dia 20.3s na frente.

A sua liderança nunca teve em risco, na prática, porque em teoria, poderia ter corrido mal.

As condições da estrada e a escolha de pneus são sempre traiçoeiras e a Toyota, tal como a Hyundai tiveram que correr riscos no último dia de prova, mas a balança tinha que pender para um dos lados. Tendo que escolher pneus para toda a secção final e depois de ter chegado ao último dia com 20.3s de avanço, bastava uma má escolha para virar o tabuleiro, mas apesar de Adrien Fourmaux ter cortado para metade o avanço à entrada do Turini, tudo dependeria de como aí estivessem as condições e a Toyota apanhou um susto.

Sabiam que havia gelo, mas também sabiam que o troço e a montanha estavam bem expostos ao sol, contudo, é impossível ter a certeza se seca ou não seca. Tem que se apostar num ‘cavalo’ e esperar pela corrida.

A grande maioria do troço estava seco, e bem seco, mas bastou o facto de 3 Km antes do Col du Turini, escondidos pelas árvores se terem mantido gelados, foi mais do que suficiente para que Adrien Fourmaux, o único entre os homens da frente que tinha quatro pneus supermacios, não poder arriscar, porque eram bons na parte seca, mas no gelo simplesmente iria perder o dobro do que ganhava no resto do troço. Por isso, Fourmaux teve que cruzar pneus e com isso todos ficaram com pneus semelhantes, ou melhor, Fourmaux ficou sem pneus para fazer a diferença, porque esperava o troço seco e esteve não secou. Se tivesse secado, a Toyota tinha perdido o rali, porque Fourmaux iria fazer o mesmo que fez na PEC 17 e provavelmente ganharia a Ogier o tempo que precisava para vencer o rali. É que Elfyn Evans nem era tema.

Isto era a teoria, porque a realidade foi que nem Evans, Fourmaux conseguiu bater. A ordem ficou a mesmo que estava e os homens da Toyota até ficaram na frente da PowerStage.

Também Ott Tanak acabou por perder para Kalle Rovanpera, porque o estónio fez uma escolha de dois pneus de cada composto, para estar sempre meio-certo em todo o lado, mas acabou por ser errado, porque quem arriscou do lado da Toyota, acertou na mouche. E quem assistiu, referiu momentos tensos nessa fase antes dos carros saírem da assistência, o que significa que a Toyota não tinha certezas e houve hesitações. Felizmente, acertaram.

Quem viu a entrevista de Kaj Lindstrom à WRC TV percebeu o nervosismo.

Desta vez, correu bem. E este era o rali mais difícil do ano neste particular, pois nos restantes nunca há tanta latitude nas escolhas que faça o piloto que segue em terceiros ‘dar’ uma média de 20 segundos aos dois pilotos da frente num só troço como sucedeu na PEC 17 do Rali de Monte Carlo.

Tudo somado, Ogier assegurou a vitória na frente de Elfyn Evans e Adrien Fourmaux depois de uma manhã de cortar a respiração nos Alpes franceses.

Elfyn Evans – Scott Martin (Toyota GR Yaris Rally1) fizeram um rali na linha do que o piloto já nos habituou. Evans não é o melhor piloto do mundo, mas é capaz de prestações em que, mesmo com altos e baixos, anda sempre perto de morder os calcanhares aos mais rápidos, e mais uma vez foi assim. No sábado, andou numa roda-viva, segundo, terceiro, segundo outra vez, e no dia decisivo, esteve perto de perder o segundo lugar, ao levar quatro pneus com pregos e dois pneus slicks supermacios, mas essa acabou por ser a abordagem certa e com isso começou o ano com um segundo lugar, o que só tinha anteriormente conseguido em 2021.

Adrien Fourmaux – Alexandre Coria (Hyundai I20 N Rally1) terminaram na terceira posição, mas podiam ter ganho o rali. Se o troço do Turini tivesse secado um pouco mais, teria tido oportunidade de fazer o mesmo que tinha feito na PEC17 e tirado mais de 20 segundos a Ogier.

A Toyota teve sorte porque o troço manteve-se gelado em 3 Km e isso foi suficiente para que Fourmaux não pudesse ter ido mais longe, nem sequer ao segundo lugar, porque afinal quem tinha os pneus certos eram os Toyota.

No Monte Carlo, os seis pneus escolhem-se normalmente para conjuntos de três troços e o que funciona num lado pode não ser assim noutro. E foi o que sucedeu. No conjunto dos três troços, ficou basicamente tudo na mesma, apesar das escolhas bem distintas. Esta é uma das ‘belezas’ do Monte Carlo.

Recordamos que se estreou com uma nova equipa, foi o mais bem classificado da Hyundai, teve que lidar com novos engenheiros, novos mecânicos, mudou-se duma estrutura mais pequena a M-Sport/Ford para outra com outros meios, onde tudo era diferente, mas aprendeu depressa, correu alguns riscos, andou quase sempre bem e colheu os frutos do 1º pódio com a equipa.

Kalle Rovanperä – Jonne Halttunen (Toyota Gr Yaris Rally1) terminou em quarto um dos piores ralis que lhe vimos fazer. Não esconde a ninguém que não gosta da generalidade dos troços do Rali de Monte Carlo, habitualmente não anda bem nesta prova e desta feita juntou ainda o facto de não ter feito ralis de asfalto em 2024, e de só ter testado com neve. Ainda assim, venceu um troço, foi subindo, devagarinho na classificação, mas lá conseguiu o quarto lugar.

Falou sempre na afinação do carro e que não sabia o que fazer para andar mais depressa, chegou a dizer que quer ver se na Suécia já consegue pilotar o carro. Na verdade, nunca nadou particularmente bem no Monte Carlo, não é a sua praia, mas pelo menos tem uma boa ordem de partida para a Suécia, e aí… desde que não faça como em 2024, claro.

Ott Tänak – Martin Järveoja (Hyundai I20 N Rally1) mostrou no sábado o que é capaz de fazer quando o carro está bom. Venceu vários troços e aproximou-se do pódio, que perdeu somente por causa da má escolha de pneus no domingo. Este é um dos casos nesta prova que a lotaria dos pneus lhe roubou um pódio, e se tivesse tido o carro como gosta, mais cedo, teria sido um sério candidato a vencer. Basta ver a ‘classificação’ do dia de sábado, Ogier ficou a 20.2s. É verdade que o francês não precisava de atacar, mas sim gerir a um ritmo alto, mas Tanak mostrou o que pode fazer, claramente. Na Suécia, poderá ter uma bela luta com Rovanpera.

Thierry Neuville – Martijn Wydaeghe (Hyundai I20 N Rally1) andou bem 5ª feira, mas os erros de sexta-feira estragaram-lhe a prova. Depois teve mais pequenos problemas, chegou a ter que fazer um reset ao carro, e no domingo não fez nada de especial. Ter sido sexto foi quase uma dádiva face ao que produziu. Teve um rali atribulado. E liderava no fim do primeiro dia. Como se não bastasse ainda foi multado em 10.000 euros por ter rodado na ligação sem um roda… a rodar livre.

Joshua Mcerlean – Eoin Treacy (Ford Puma Rally1) terminaram em sétimo, cumpriram o que lhes foi pedido, mas o jovem irlandês confessou que podia ter andado mais depressa. Não quis arriscar, mas talvez devesse mais cedo não permitir que qualquer Rally2 andasse mais depressa. Era o mínimo que se exigia, mas sendo o Monte Carlo uma prova muito específica, em que as escolhas de pneus fazem muita diferença, tem desculpa, porque ao fim ao cabo não meteu uma roda fora do sítio e levou o carro até ao fim da prova. Não impressionou, mas foi sólido e deixou bons sinais. .

Takamoto Katsuta – Aaron Johnston (Toyota Gr Yaris Rally1) tinham feito um rali apagado até ter abandonado por despiste no último dia. Tem desculpa, porque estava doente, e competir a este nível não se coaduna com um forte gripe. Curiosamente, venceu um troço, mas teve muito mais baixos do que altos.

Sami Pajari – Marko Salminen (Toyota Gr Yaris Rally1) terminaram o rali fora de estrada, o jovem finlandês ficou muito desapontado, mas foi um azar que até os mais experientes já tiveram em Monte Carlo. Ninguém adivinha onde está o gelo negro e como não foi avisado que ali podia haver, quando tentou travar já nada havia a fazer. Até aí estava a fazer o que lhe pediram, levar o carro até ao fim para ganhar experiência. Claramente, pode andar mais depressa do que o que vimos em Monte Carlo. Já o fez anteriormente, em 2024.

Grégoire Munster – Louis Louka (Ford Puma Rally1) foi uma boa surpresa. O ano passado, o seu primeiro nos Rally1, foi pobre demais. Mas o que fez no Monte Carlo foi um grande trabalho. Ganhou uma especial, uma estreia, mas fez mais do que isso, pois teve um andamento dois degraus acima de 2024. Agora tem que o provar nas próximas provas, e talvez a diferença se tenha feito em termos mentais, mas a verdade é que nesta prova merecia muito mais do que teve.

Dentro de três semanas, a neve e o gelo do Rali da Suécia, que se realiza de 13 a 16 de fevereiro. Como vimos aqui em Monte Carlo, os carros parecem equivaler-se muito, temos vários pilotos que podem lutar na frente, não há um candidato claro. É óbvio que podemos pensar no bicampeão, Kalle Rovanperä, mas até ver o WRC está totalmente aberto. Ou não concorda que Kalle Rovanperä, Elfyn Evans, Thierry Neuville, Ott Tänak e Adrien Fourmaux, todos podem vencer ralis este ano? Para já, parece claro, mas vamos ver como continua a época.

Quanto a Sébastien Ogier, até Portugal…

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