Treasuries ou Tesouro Direto: onde investir na renda fixa com Trump no poder?
Papéis brasileiros têm taxas mais altas, mas renda fixa dos EUA oferece proteção contra a desvalorização do real The post Treasuries ou Tesouro Direto: onde investir na renda fixa com Trump no poder? appeared first on InfoMoney.
Em tempos de incerteza com os rumos da economia, a renda fixa se apresenta como o porto seguro dos investidores. A turbulência já chegou no Brasil e causou forte abertura das taxas. Agora, os agentes do mercado monitoram os primeiros movimentos de Donald Trump em seu segundo mandato como presidente dos Estados Unidos para decidir onde investir.
O mercado acionário dos EUA deve ter bom desempenho sob o comando do republicano, mas o mercado de Treasuries vem se comportando como um poder fiscalizador da economia americana, o que fez o rendimento dos papéis subir para perto de 5% ao ano atualmente nos vencimentos mais longos.
Os Treasuries são equivalentes aos títulos do Tesouro Direto – papéis emitidos pelo governo para financiar a dívida do país com uma lógica de mercado simples: quanto maior a percepção de risco para emprestar dinheiro ao governo, maior a taxa exigida.
Mas afinal, é melhor investir na renda fixa brasileira ou americana?
Trump 2 vs Lula 3
Mesmo com uma grande distância ideológica, é possível encontrar semelhanças na visão dos mercados sobre as políticas econômicas republicana e petista. Enquanto Trump assume o poder, os agentes indicam que suas medidas devem elevar a inflação e são uma ameaça para a trajetória da dívida americana.
José Maria Correia da Silva, coordenador de estratégia da Avenue, diz que “o mercado interpreta que a administração de Trump não está preocupada com o déficit fiscal. Se eu sei que o país vai continuar com déficit elevado, quero ser remunerado com uma taxa mais alta e todas as medidas anunciadas por ele pesaram para o lado de taxas dos Treasuries mais altas”.
A Treasury de 10 anos, referência do mercado de renda fixa americano, pagava 3,74% ao ano no início de outubro. Ao longo daquele mês, enquanto as chances de uma vitória republicana aumentavam, a taxa chegou a 4,28%. Hoje, o papel remunera 4,58% ao ano.
Por aqui, o governo federal também é alvo de desconfiança desde a última eleição presidencial. O pessimismo com a política fiscal é o principal motivo para a forte abertura dos juros que fez o Tesouro Prefixado 2035 sair de remuneração de 10,66% em fevereiro do ano passado para 15,07% atualmente.
Portanto, Treasuries e títulos do Tesouro Direto estão em patamares historicamente elevados, o que faz especialistas gostarem das duas opções.
“Os títulos do Tesouro americano oferecem rendimentos historicamente interessantes”, diz o planejador financeiro Harion Camargo. No Brasil, “as taxas reais elevadas tornam os títulos do Tesouro Direto atrativos para os investidores locais”, completa o especialista.
Incertezas
Apesar de considerarem as taxas altas, os analistas não fecham consenso sobre a queda dos juros. Nos EUA, essa perspectiva depende da postura de Trump e sua equipe econômica nos próximos meses.
No Onde Investir 2025, evento promovido pelo InfoMoney, Rodrigo Azevedo, ex-diretor do Banco Central e gestor de fundos da Ibiuna Investimentos, disse que “os mercados estão preparados para uma estratégia de choque”. Ou seja, se o presidente cumprir o que prometeu nas eleições, as reações do mercado e consequências econômicas podem pesar para uma alta dos juros e gerar taxas ainda maiores no futuro.
Mas Raul Sena, fundador da AUVP Capital, discorda e diz as políticas mais polêmicas, como corte de impostos e estímulos econômicos, podem gerar inflação, mas o efeito estaria restrito ao curto prazo e já precificado. “ O efeito de longo prazo pode ser um ajuste para baixo, já que o impacto inflacionário dessas medidas costuma ser menor do que o alarde”.
No Brasil, enquanto o governo não apresenta propostas consideradas críveis pelo mercado para diminuir os gastos públicos e melhorar a trajetória da dívida, os juros devem seguir altos. A partir do segundo semestre, porém, o efeito da atuação do Banco Central no aperto monetário pode controlar a inflação e fazer as taxas cederem, esperam alguns analistas.
4,5% vs 15% ao ano
Além do cenário macroeconômico, os investidores também comparam os 15,07% de remuneração anual do Tesouro Prefixado 2035 contra 4,58% do papel de 10 anos do Tesouro americano. O que faz dos papéis brasileiros uma escolha óbvia, certo? Os especialistas mostram que não é tão simples assim.
“A comparação não pode ser feita apenas com base nas taxas nominais, pois são ativos denominados em moedas diferentes e com riscos distintos”, explica Camargo.
Quem compra títulos do Tesouro dos EUA também está sujeito à valorização ou depreciação do câmbio. No ano passado, o dólar subiu 27,35% ante o real e quem tinha ativos dolarizados na carteira pôde capturar a valorização. Logo, investir nos Treasuries é proteger a carteira contra a provável desvalorização do real ao longo dos próximos anos, já que o governo Trump deve dificultar o desenvolvimento dos países emergentes.
Sena ainda lembra que o Tesouro Direto é considerado mais arriscado que os Treasuries, que “oferecem segurança quase absoluta’. Para ele, “comparar as taxas sem olhar o risco e a moeda é como escolher um carro só pela velocidade máxima, mas sem pensar em segurança ou consumo de combustível”.
Marcação a mercado
Ao comparar a renda fixa americana com a brasileira, o investidor também precisa considerar que o mercado dos EUA é baseado em ativos prefixados. Logo, ele estará sujeito à marcação a mercado, que desvaloriza os títulos se os juros subirem ou gera ganhos na venda antecipada em caso de fechamento das taxas.
Por outro lado, o título público brasileiro mais comprado é o Tesouro Selic, que acompanha a variação dos juros básicos e protege o investidor da volatilidade de opções com remuneração integral ou parcialmente prefixada.
Com isto em mente, Camargo diz que “uma estratégia eficiente pode ser a alocação gradual, diluindo riscos e aproveitando os momentos favoráveis do mercado”. A ideia é não tentar acertar o timing perfeito, tarefa difícil e que pode fazer o investidor perder mais dinheiro caso seja afetado pela marcação negativa.
Mas Silva, da Avenue, lembra que os investidores que pretendem levar os títulos até o vencimento não precisam se preocupar com os efeitos da marcação a mercado, já que isto afeta os títulos vendidos antecipadamente.
Treasuries ou Tesouro Direto?
Uma carteira de renda fixa saudável tem títulos de renda fixa do Tesouro americano e brasileiro, dizem os especialistas ouvidos pelo InfoMoney. “O investidor não precisa abdicar de um para comprar o outro. Somos uma empresa de investimentos internacionais, mas não falamos para os nossos clientes largarem todas as posições no Brasil”, diz Silva.
Já Sena sustenta que cada papel tem uma função na carteira: “Treasuries oferecem proteção cambial e segurança, enquanto a renda fixa brasileira traz um juro real muito alto, difícil de ignorar”.
Harion Camargo diz que a diversificação é recomendada para mitigar riscos, mas o peso das geografias nas carteiras pode variar. “Quem busca mais retorno pode priorizar o Brasil, já quem deseja proteção pode aumentar a exposição aos Treasuries”.
Melhores vencimentos
Nos Estados Unidos, os investimentos de curto prazo pagam menos e os de longo prazo são considerados mais arriscados. A Avenue prefere os vencimentos intermediários, entre três e sete anos: “estão com um grau de atratividade alto e em qualquer vértice nesse intervalo o investidor consegue travar remuneração perto de 5% ao ano”, observa o estrategista da casa.
O especialista acrescenta que a escolha do vencimento precisa passar pelo objetivo do investidor. Na mesma linha, Raul Sena diz que os prazos mais longos podem gerar ganhos se as taxas caírem no futuro, mas a escolha “é uma questão de equilibrar os objetivos com o nível de risco que você está disposto a correr”.
No Brasil, a exposição mais segura é via Tesouro Selic, que tem rentabilidade alta e pode funcionar como uma reserva de oportunidade por sua alta liquidez. No Tesouro IPCA+, analistas enxergam o patamar atual de juro real como uma oportunidade para alongar os vencimentos e lucrar com a venda antecipada dos papéis no futuro.
Já no Tesouro Prefixado, o título mais parecido com os Treasuries, a ordem da vez é encurtar a duration porque uma Selic de 15% não está descartada e as taxas podem subir ainda mais.
Como investir em Treasuries?
É possível comprar os papéis via corretoras internacionais ou indiretamente via fundos de gestão passiva, ou ativa. Nas contas internacionais, o investidor precisa mandar os reais para a corretora em operações com cobrança de 1,1% de IOF, além das taxas de serviço cobradas pelas instituições. O lucro com a venda dos papéis é considerado ganho de capital e, portanto, tem cobrança de Imposto de Renda de 15% a 22,5% a partir de ganhos de R$ 35 mil.
Os ETFs (fundos de índice) também são uma opção para a exposição aos Treasuries. Eles replicam índices que acompanham a variação dos papéis e cobram taxa de administração.
Há, ainda, fundos brasileiros com gestão ativa que investem em renda fixa local que podem ser uma alternativa mais simples para a exposição. O investidor também paga taxa de administração ao comprar as cotas desses fundos.
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