OPINIÃO. As ideias por trás da nova oligarquia da América

Quantos livros você seria capaz de citar como aqueles que definitivamente “mudaram o mundo”? De bate pronto, a maioria das pessoas talvez citasse três: A Riqueza das Nações, O Capital e Mein Kampf.  Sim, mudar o mundo não é necessariamente algo “positivo”. O que pouca gente citaria é uma obra de ficção científica perdida nos […] The post OPINIÃO. As ideias por trás da nova oligarquia da América appeared first on Brazil Journal.

Jan 24, 2025 - 02:29
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OPINIÃO. As ideias por trás da nova oligarquia da América

Quantos livros você seria capaz de citar como aqueles que definitivamente “mudaram o mundo”? De bate pronto, a maioria das pessoas talvez citasse três: A Riqueza das Nações, O Capital e Mein Kampf. 

Sim, mudar o mundo não é necessariamente algo “positivo”.

O que pouca gente citaria é uma obra de ficção científica perdida nos anos 60 chamada The Lord of Light. E ainda assim, como num efeito borboleta, é este livro que ajuda a entender a América de hoje – e em breve o mundo. 

É um livro que explica também o que leva Elon Musk a brigar com Carlos Slim, o dono da América Móvil (e da Claro no Brasil) e o maior acionista do New York Times.

Não vou dar spoilers sobre a obra em si, apenas citar que sua publicação foi crucial para o desenvolvimento do chamado “Aceleracionismo,” a ideia de que o ser humano pode tudo – de conquistar Marte até se sobrepor à própria morte, como muitos no Vale do Silício já estão tentando.

Essa ideologia ambidestra, que tem representantes na esquerda e na direita, defende que é possível darmos um empurrão na marcha da história e potencializar a ciência. Até aí, nada que não tenha sido tentado antes.

O que há de novo, entretanto, é o que o filósofo Nick Land, conhecido como “The Godfather of accelerationism,” produziu em torno dessa ideia.

Land é autor de um termo ainda pouco conhecido, o “Dark Enlightenment”, que também dá nome a um manifesto que ele publicou em 2008.

Em suma, este “Iluminismo das Trevas” se opõe à visão liberal dominante nos últimos dois ou três séculos de que a humanidade caminha inequivocamente para uma era de maior prosperidade e liberdade.

No manifesto, Land cita Peter Thiel para defender a ideia de que “a Democracia Liberal falhou,” e propõe alternativas.

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Ele defende que o período que antecedeu os Estados Nação, quando havia pequenos reinos concorrendo entre si, entregava um resultado mais positivo para a sociedade, com maior liberdade e apelo à inovação.

É esta ideia que Peter Thiel passou a última década defendendo. Uma volta aos tempos pré-iluministas, com uma descentralização extrema do Estado nacional e uma maior competição entre os governos regionais, comandados por “corporações”. Neste cenário, caberia ao indivíduo “votar com os pés” e se mudar para o local cujas regras mais lhe convém. 

Talvez um dos nomes mais respeitados do Vale, Thiel jamais escondeu que desacredita no modelo da Pax Americana, aquele em que vivemos (ou vivíamos) há sete décadas. 

Thiel promove, defende e financia as ideias de Land, que colocam os CEOs como peça-chave em uma nova realidade de governo. 

Você já sabe, mas não custa lembrar: Thiel não é um nome isolado no Vale. Ao contrário, junto da chamada PayPal Máfia, possui ligações com boa parte da indústria. 

Seu sócio na criação do PayPal foi Elon Musk. Outro sócio, menos badalado, foi David Sacks, o atual czar de criptomoedas e inteligência artificial do governo Trump, além de ser responsável por reunir Trump e Musk, que até pouco tempo não eram melhores amigos.

As aventuras de Thiel também o colocaram diante de Mark Zuckerberg, outro que parece totalmente convencido deste novo momento e que teve Thiel como seu primeiro investidor.

A lista, claro, é muito mais longa. No governo Trump, os CEOs possuirão enorme influência e poder. 

E este talvez seja o maior desafio para os próximos anos, do ponto de vista analítico: entender justamente onde termina o Estado americano e começam os interesses corporativos.

Até aqui, ninguém escancara melhor essa confusão do que Elon Musk.

Ontem, Musk voltou a atacar Sam Altman, da OpenAI, sobre o projeto Stargate. Na manhã de hoje, seu alvo foi outro: Carlos Slim, o bilionário mexicano e o maior acionista do New York Times. 

Musk replicou uma conta que criticava um editorial do NYT e alegava que ele, Slim, possuía ligações com os cartéis de droga mexicanos.

Há dois meses, outro jornal que historicamente apoiava os Democratas, o The Washington Post, suspendeu o endosso a Kamala Harris por decisão de seu acionista, Jeff Bezos. 

A tática do bullying é mais do que conhecida por parte de Trump, que utiliza o nonsense como arma de negociação. Neste ciclo, porém, há um novo troll: o próprio Musk.

E você talvez não tenha notado o erro nisso – afinal, rinha de bilionários é algo divertido. O problema é que jamais saberemos se os ataques são proferidos por Musk, o secretário de Estado, ou Musk, o empreendedor.

E talvez isso nem importe. Na América dos CEOs, isto já deixou de fazer diferença. 

Quanto a Nick Land, ele continua morando em Xangai, o que talvez nos dê uma boa ideia sobre o que o guru deste movimento acredita em termos de liberdade de expressão, democracia e outros pontos que importam a todos nós.

Felippe Hermes é co-fundador da BlockTrends, uma edtech focada em crypto, e do portal Spotniks.

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