Como calcular o valuation de um negócio sem faturamento?
Startupi Como calcular o valuation de um negócio sem faturamento? Calcular o valuation de uma empresa sem faturamento pode parecer um paradoxo, mas é uma necessidade real, especialmente no mundo das startups e dos negócios em fase inicial. O mercado não espera a empresa gerar receita ou parar de dar prejuízos para determinar seu valor, investidores e empreendedores precisam entender que este número não é [...] O post Como calcular o valuation de um negócio sem faturamento? aparece primeiro em Startupi e foi escrito por João Kepler
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Como calcular o valuation de um negócio sem faturamento?
Calcular o valuation de uma empresa sem faturamento pode parecer um paradoxo, mas é uma necessidade real, especialmente no mundo das startups e dos negócios em fase inicial. O mercado não espera a empresa gerar receita ou parar de dar prejuízos para determinar seu valor, investidores e empreendedores precisam entender que este número não é apenas sobre faturamento, fluxo de caixa positivo ou EBITDA, mas sobre o que a empresa pode valer no futuro.
E aí entra a questão: Como estimar o valor de algo que ainda não vendeu nada? A resposta está na combinação de projeções, benchmark de mercado, tamanho da oportunidade, estrutura do cap table e a força da equipe executora.
“Como calculo meu Valuation se ainda não estou gerando receita?” Essa dúvida faz total sentido, pois uma avaliação baixa pode comprometer as rodadas futuras de captação de recursos, enquanto uma avaliação alta pode afastar investidores ou criar o risco de ter que fazer um “Down Round” no futuro. Portanto, ele precisa ser calculado com critério, usando abordagens sólidas e ajustadas à realidade do negócio.
Nesse texto eu explico 3 abordagens baseado na minha experiência prática:
Abordagem 1: valuation com base zero
Essa abordagem considera o valuation do negócio a partir das necessidades financeiras e do Equity disponível no Cap Table. Basicamente, calcula o valor necessário para que a empresa chegue ao break-even e relaciona esse montante com o percentual de Equity a ser oferecido.
Três variáveis essenciais:
- Percentual de Equity no Cap Table: investidores aceitam amplamente que os fundadores devem manter pelo menos 60% de Equity até o estágio de Série A. Isso significa que cada rodada de captação precisa ser planejada para evitar uma diluição excessiva no futuro. Por exemplo, suponha que um empreendedor pretende levantar uma rodada Anjo diluindo 10%, depois uma rodada Pré-Seed com mais 10% e uma rodada Seed com mais 10%. Ao chegar na Série A, ele ainda teria cerca de 70% do equity no cap table. Essa estrutura ajuda a definir o valor com base na diluição.
- Burn Rate Mensal até o Break-Even: o segundo passo é calcular quanto a startup queimará por mês até alcançar o break-even. Isso significa mapear despesas fixas, variáveis, custos de aquisição de clientes e estimativas de receitas futuras. Ao somar todos os meses de queima de caixa (ou negativo) até a startup atingir o ponto de equilíbrio, encontra o total necessário para sua sobrevivência sem novos aportes.
- Valuation médio por estágio: no Brasil, para uma startup em estágio inicial e sem faturamento, um valuation superior a R$ 5 milhões dificilmente se justifica, mesmo que seja promissora. Em geral, os valores nesse estágio variam na média entre R$ 500 mil e R$ 3 milhões. Se o cálculo baseado em equity e burn rate apontar um número fora de uma faixa segura, é hora de ajustar o percentual de Equity oferecido, nunca a necessidade real de caixa.
Como calcular na prática?
A fórmula é simples:
Valuation sugerido = Valor total negativo até o breakeven × Percentual de equity oferecido
Por exemplo: se o burn rate total até o break-even for R$ 200 mil e o fundador oferecer 10% de equity, o valuation sugerido seria R$ 2 milhões.
Abordagem 2: potencial de saída baseado em múltiplos
Outra forma de calcular este número é através da projeção de saída, ou seja, quanto ela pode valer no futuro com base no mercado e nos múltiplos de valor sobre receita (EV/R). Esse múltiplo é amplamente utilizado para entender como empresas do setor são avaliadas e projetar o Valuation futuro da Startup, caso ela atinja um determinado nível de receita. Investidores usam essa abordagem para calcular qual participação precisam obter hoje para garantir um retorno desejado no futuro.
Por exemplo, se uma empresa tem concorrentes que, ao atingir R$ 100 milhões de faturamento, foram vendidas a um múltiplo de 5x a receita, o número projetado seria R$ 500 milhões. Se um investidor deseja um retorno de 10x sobre seu investimento, ele precisaria calcular qual participação adquirir hoje para alcançar esse retorno no momento da saída.
Abordagem 3: valuation futuro baseado em taxa de retorno
Outra técnica amplamente usada por investidores é a projeção do valuation futuro e seu desconto para o presente, utilizando a fórmula:
Onde:
- Valuation Futuro: quanto a empresa pode valer daqui a alguns anos, baseado no mercado e concorrentes.
- Taxa de Retorno: o retorno esperado pelos investidores, geralmente entre 30% e 50% ao ano para startups.
- n: número de anos até o evento de saída (IPO ou venda da empresa).
Essa abordagem é usada para calcular quanto vale a empresa hoje, considerando o risco e a incerteza de atingir o valor projetado no futuro.
Fatores essenciais para qualquer das abordagens sugeridas
Independentemente do método utilizado, alguns fatores são cruciais para definir um valuation sólido e justificável:
- Potencial de Mercado: startups em mercados grandes e em crescimento podem justificar valores mais altos. Modelos como TAM, SAM e SOM ajudam a definir o tamanho da oportunidade e a participação potencial da empresa. No entanto, apenas dizer que o mercado é grande não basta, mas é preciso um plano realista para capturar uma fatia relevante desse mercado.
- Força do Time Fundador: investidores apostam mais em quem está por trás do negócio do que na empresa em si. Se o time tem experiência, histórico de sucesso ou conhecimento profundo do setor, o valuation sobe. Se o time é fraco, o número despenca, independentemente da ideia.
- Tecnologia e Propriedade Intelectual: startups com tecnologia proprietária, patentes ou soluções difíceis de replicar conseguem justificar Valuations mais altos, pois criam barreiras de entrada para concorrentes.
- Tração e Validação de Mercado: mesmo sem faturamento, startups podem demonstrar tração por meio de usuários cadastrados, engajamento, parcerias estratégicas ou cartas de intenção de clientes. Essas evidências aumentam a confiança dos investidores e impactam positivamente o valuation.
O maior erro? Definir um valuation sem nenhum embasamento
O valuation de uma empresa pré-receita não é uma ciência exata, mas um equilíbrio entre narrativa, projeções e validação de mercado. O maior erro de um fundador é definir este número sem embasamento, usando somente fórmulas tradicionais baseadas em EBITDA ou múltiplos de receita, que simplesmente não fazem sentido nessa fase.
Investidores não estão preocupados apenas com o que a empresa vale hoje, mas sim com o quanto ela pode valer daqui a cinco ou dez anos e qual a probabilidade de isso acontecer. E o que muitos esquecem? Valuation não é um número fixo, é um número percebido e um acordo entre fundador e investidor sobre o potencial futuro da empresa.
No final das contas, valuation de empresas pré-receita é um jogo de percepção e convencimento. Se a empresa resolve um problema real, tem um time forte, uma abordagem inovadora e sinais de tração, o mercado pode atribuir a ela um valor significativo. Mas se tudo se baseia apenas em um pitch bem feito, sem validações concretas, o risco de um valuation inflado, fora do estágio e insustentavelmente alto.
O segredo está em construir uma história sólida no estilo StoryDoing, respaldada por evidências, mostrando que, mesmo sem faturamento, a empresa já vale alguma coisa. E o maior erro que um fundador pode cometer? Definir um Valuation sem embasamento e depois sofrer as consequências quando a realidade bater à porta.
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