CEO diz que os cinco milhões da garantia pública que coube ao Banco Montepio “é decepcionante”

Na entrevista à Antena1 e ao Jornal de Negócios, Pedro Leitão refere mesmo que, dentro de um mês ou dois, a "quota acabou". Adianta que se estivesse dependente disso, para dar crédito aos jovens que procuram o Montepio, "estava tramado”.

Fev 9, 2025 - 02:23
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CEO diz que os cinco milhões da garantia pública que coube ao Banco Montepio “é decepcionante”

Pedro Leitão falava na entrevista à Antena1 e ao Jornal de Negócios, no Programa Conversa Capital, quando comentou que a quota de 5 milhões de euros atribuídos ao Banco Montepio para garantia pública ao crédito à habitação jovem “é decepcionante”.

Na entrevista Pedro Leitão refere mesmo que, dentro de um mês ou dois, a “quota acabou”. Adianta que se estivesse dependente disso, para dar crédito aos jovens que procuram o Montepio, “estava tramado”.

Admite que seja cedo para dizer se, em termos gerais, a garantia pública vai esgotar, mas defende que, tal como já foi feito no passado para outras medidas, se assim for, a medida deve ser reavaliada e deve continuar.

Segundo o Despacho n.º 14916/2024, de 18 de dezembro, o montante máximo da garantia pública a conceder pelo Estado, fixado em 1,2 mil milhões de euros, foi distribuído tendo em conta as quotas de mercado de cada instituição de crédito na concessão de crédito à habitação, disponibilizadas pelo Banco de Portugal. No entanto, os bancos têm a possibilidade de ver esse valor reforçado.

Foram 18 instituições de crédito que aderiram e por isso estão autorizadas a financiar o “valor total do imóvel” (desde que sejam cumpridos os critérios da garantia pública e legais), ficando assim o Estado a funcionar como fiador do montante que, por imposição legal, os bancos não podem financiar.

Pedro Leitão não vê necessidade de rever os critérios que estão a ser aplicados ao crédito jovem, mas admite que o valor dos salários continua a ser o maior obstáculo no cálculo da taxa de esforço. Lembra ainda que para resolver o problema da habitação não basta facilitar o crédito, é preciso avançar com outras medidas.

O CEO do banco diz que concorrência entre bancos “pode ficar mais feroz” por causa da descida da taxa de juro. A concorrência entre bancos “já é feroz” e “pode ficar mais feroz” com a descida das taxas de juro. Pedro Leitão lembra nesta entrevista que a “intensidade competitiva é uma realidade bem presente no mercado português”.

O banqueiro adianta que, com a descida das taxas de juros, só há duas formas de resolver o assunto: “é competir ferozmente para servir bem os clientes atuais e surfar o bom momento da economia”. Por outro lado considera que convergir para um nível de neutralidade das taxas de juro é o caminho normal.

Na entrevista o CEO do Banco Montepio não vê a consolidação do mercado português como uma prioridade, como “o primeiro desafio ou a primeira necessidade da banca portuguesa”.

Sobre a venda do Novobanco a um banco já em operação em Portugal diz que “levanta muitas dúvidas do ponto de vista concorrencial” e acrescenta “nem sei se seria o mais benéfico”.

Sobre a possibilidade desse comprador ser espanhol, Pedro Leitão admite que possa ser um problema “e, havendo alternativas, essas alternativas deviam ser equacionadas seriamente”.

O Banco Montepio, segundo Pedro Leitão, não pensa fazer aquisições e, quanto à abertura de capital, que já chegou a ser falada pelo acionista, o CEO não se pronuncia, adianta apenas que, com a consolidação de resultados que o banco está a ter, “essa possibilidade torna-se mais atrativa”.

O banco da Associação Mutualista Montepio Geral, com quatro anos seguidos de lucros e o processo de redimensionamento concluído, vai distribuir dividendos. Pedro Leitão, no entanto, deixa ficar o anúncio publico do montante para a Assembleia Geral de abril, revelando apenas que será um valor superior ao do ano passado.

O CEO do banco também disse que não vê necessidade de mexer nos critérios de solvabilidade dos bancos.

Pedro leitão considera que o crescimento do incumprimento “não representa um risco material” se o cenário económico e financeiro se mantiver. Adianta que os níveis de malparado já estão “no fundo da garrafa” e a tendência será para ali ficarem. Nesse sentido, o Montepio pretende manter o nível de rácio de NPL (Non-Performing Loans) alinhado ao mercado ou até ligeiramente abaixo, como aconteceu o ano passado.

Por fim, e lembrando que a vida da banca e os níveis de crédito dependem da pujança económica do país, Pedro Leitão apela a um entendimento entre os partidos para que possa existir estabilidade fiscal e uma verdadeira reforma da administração publica: “é extenuante levar por diante projetos que dependem de apreciações de organismos públicos”, confessa.