Buchholz, Sá da Costa e A Vencedora são as novas Lojas com História de Lisboa

Duas livrarias, uma fundada em 1943 e outra cuja vida remonta a 1913, recebem o selo Lojas com História. Longe dos livros mas perto do coração, a vidraceira A Vencedora também é distinguida pela Câmara.

Fev 7, 2025 - 19:22
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Buchholz, Sá da Costa e A Vencedora são as novas Lojas com História de Lisboa
Buchholz, Sá da Costa e A Vencedora são as novas Lojas com História de Lisboa

Uma nasceu há 82 anos, outra começou a dar os primeiros passos há 112 e outra ainda consegue ir mais atrás, até 1875. Falamos das livrarias Buchholz e Sá da Costa e da vidraceira A Vencedora, casas que receberam esta semana, no dia 5 de Fevereiro, a distinção de Lojas com História, da Câmara Municipal de Lisboa (CML). "Estes espaços são muito mais do que estabelecimentos comerciais — são parte da memória colectiva da cidade", declara a autarquia, destacando "o equilíbrio entre tradição e modernização" e a importância do "comércio de proximidade" na vida da cidade.

Na Buchholz, fundada em 1943 por um livreiro alemão, a renovação de 2023 não lhe terá retirado camada histórica. Pelo menos é o que se pode depreender da decisão do júri. O que sempre se ouviu dizer sobre a livraria da Rua Duque de Palmela repete hoje Ana Rita Bessa, CEO da Leya, num comunicado em reacção à distinção: "A Livraria Buchholz sempre foi mais do que um espaço de venda de livros, é um ponto de encontro da cultura em Lisboa." O selo atribuído pela CML é, aliás, lido pela responsável como "um reconhecimento merecido para um espaço que há 80 anos contribui para a elevação da vida quotidiana na cidade, enquanto referência nas áreas da literatura, da arte e do conhecimento". Ser Loja com História é, assim, um reforço para "manter a Buchholz como um polo cultural dinâmico, acessível e relevante" para a cidade", assume a CEO.  

Livraria Buchholz, em 2023
Rodrigo Simões CardosoLivraria Buchholz, em 2023

Além dos três pisos forrados a livros e do plácido chão em madeira, a Buchholz (nas mãos do Grupo Leya desde 2009) é marcante pelos momentos culturais, sociais e políticos que protagonizou. A Leya, aliás, aproveita o reconhecimento da CML para recordar alguns, como as exposições dos ainda jovens artistas Helena Almeida ou Mário Cesariny, ou o encontro entre Miguel Esteves Cardoso e Paulo Portas, como embrião do semanário O IndependentePara lá das elites, foi escolhida três vezes consecutivas (em 2017, 2018 e 2019) como a livraria favorita dos portugueses.

Depois da renovação, em 2023, passou a ter também disponível um catálogo respeitável de discos (em parceria com a Flur, considerada uma das melhores lojas de discos do mundo pelo Financial Times) e uma selecção de arte de autores nacionais (com curadoria da Icon Shop).

Um café na Benard e um livro na Sá da Costa

Outro ícone da cidade ao qual ainda não se havia atribuído o selo Lojas com História (restarão poucos, tornando cada vez mais difícil a tarefa de desvendar preciosidades maduras na malha comercial de Lisboa) é a Livraria Sá da Costa, na Rua Garrett desde 1943. Trinta anos antes, no entanto, já havia coisas para contar. Foi quando abriu no Largo do Poço Novo, junto à Calçada do Combro, sob a gestão de Augusto Sá da Costa.

 

Livraria Sá da Costa
DRLivraria Sá da Costa

Nos três medalhões de bronze de traço modernista está, no fundo, a sua definição: um é de Camões, representando as Humanidades, outro de Garcia da Horta, para as Ciências, e o último o lema da empresa: "instruere: construere". Além de livros novos, a vertente alfarrabista é o forte, indo de clássicos da literatura portuguesa, russa ou francesa do século XX, em diferentes línguas, até raridades como incunábulos (livros do início da impressão, no século XV) ou livros esgotados do século XX e XXI. "Permite assim aos estudantes nacionais e estrangeiros, investigadores e amantes de livros em geral aceder a informação bibliográfica histórica em todas as áreas do conhecimento humano, que de outra forma estariam totalmente indisponíveis para aquisição e apenas parcialmente disponíveis para consulta em bibliotecas públicas", pode ler-se na página da livraria.

Pela vida da Sá da Costa passou também a edição e, curiosamente, a Buchholz. Como recorda o blogue Restos de Colecção, "em 2008, um novo grupo editorial foi criado a partir de uma parceria que incluiu a Livraria Buchholz". A coisa morreu, a vida andou e, em 2010, perante a baixa saúde financeira do negócio, a Sá da Costa foi colocada à venda e no ano seguinte foi declarada insolvente. Em 2013, aos 100 anos, fechou portas, para pouco depois ser comprada pela Castro e Silva e manter-se de pé no Chiado. Há três anos, abriu na livraria o Sá da Costa Café.

E esta é A Vencedora

Resta falar da vidraceira A Vencedora, não menos nobre por vender e fazer molduras, vidros e espelhos em vez de papel, imaginário e conhecimento. O nome da casa fundada em 1875 — surpreenda-se — vem de Joana d'Arc, "A Vencedora", de quem o criador da vidraceira, João Oliveira Melo, era grande fã. O estabelecimento mantém-se na mesma família há três gerações e conjuga "o antigo com o moderno", como descreve à Time Out Jorge Santos, sócio-gerente e neto do fundador.

 

Vidraceira A Vencedora
DRVidraceira A Vencedora

Nos seus 150 anos de vida, A Vencedora forneceu (durante 50 anos) a antiga Pastelaria Suíça, amparou as aflições dos artistas Bordalo II e do seu avô, Real Bordalo, e trabalhou (continuando) para instituições como a Faculdade de Belas Artes ou a Academia Militar. Mas, acima de tudo, é "uma loja de bairro", que agora recebe este reconhecimento, ao qual há muito tempo pensava candidatar-se. "É importante para nós e as pessoas valorizam", admite Jorge Santos. Afinal, são 150 anos.