A importância do Canal do Panamá para o comércio global
Algumas localizações geográficas são muito importantes para o bom funcionamento da economia mundial. Sabemos que historicamente, rios e mares foram fundamentais para que trocas comerciais existissem entre nações, e hoje em dia não é diferente. Um exemplo é o Canal do Panamá. O Canal do Panamá é uma hidrovia estratégica de 82km que conecta os […]
Algumas localizações geográficas são muito importantes para o bom funcionamento da economia mundial. Sabemos que historicamente, rios e mares foram fundamentais para que trocas comerciais existissem entre nações, e hoje em dia não é diferente. Um exemplo é o Canal do Panamá.
O Canal do Panamá é uma hidrovia estratégica de 82km que conecta os oceanos Atlântico e Pacífico. Usando um sistema de comportas e reservatórios, ele eleva navios a 26 metros e os retorna ao nível do mar, e entre 13 mil e 14 mil embarcações atravessam o canal anualmente.
Neste texto, analisaremos sua história e qual papel essa área exerce atualmente no comércio global. Acompanhe a leitura para saber mais!
O que é um canal e o que não é?
Um canal, na geografia, é o que divide duas massas de terra. Eles podem surgir naturalmente, como o Canal da Mancha, ou o Canal de Moçambique, e podem ser construídos pelo homem, como é o caso do Canal do Panamá.
Canais são úteis para facilitar e encurtar rotas comerciais, assim como os estreitos, outra definição parecida com canal, mas que possui características diferentes.
Estreitos sempre são formações naturais, e podem ser rasos, já os canais geralmente são mais largos e profundos.
Estreitos também são a conexão entre duas porções de água maiores e distintas, enquanto canais podem fazer conexões dentro de um mesmo corpo de água. Aqui vai um exemplo de canal e de estreito:
História da construção do Canal do Panamá
Desde o século XVI, os europeus buscavam uma passagem que ligasse o Atlântico ao Pacífico para evitar as dificuldades do Estreito de Magalhães e do Cabo Horn, com seu clima perigoso e longas distâncias. Ideias para a construção de um canal foram propostas em locais como Nicarágua, Tehuantepec (México) e Darién, mas só no século XIX o projeto começou a ganhar forma.
Em 1880, a Colômbia concedeu a Fernando de Lesseps, o engenheiro francês responsável pelo Canal de Suez, a tarefa de construir o Canal do Panamá. No entanto, o projeto foi prejudicado por doenças entre os trabalhadores, como malária, clima adverso e falta de infraestrutura adequada, levando à falência da iniciativa.
Este fracasso atraiu o interesse dos Estados Unidos, que consideravam o canal ponto-chave para sua expansão como potência emergente.
A instabilidade política na Colômbia após uma guerra civil abriu caminho para os EUA negociarem a construção do canal. O tratado Herrán-Hay previa a concessão da obra aos americanos por US$ 40 milhões, mas foi rejeitado pelo Congresso colombiano em 1903, sob o argumento de violação da soberania nacional. Isso levou à separação do Panamá, que contou com apoio militar e político dos Estados Unidos, que iniciou a construção do canal nesse mesmo ano.
Após a independência, o Panamá assinou o tratado Hay-Bunau Varilla, garantindo aos EUA controle do canal e de uma Zona do Canal de 8 km de cada lado. Em troca, o Panamá recebeu US$ 10 milhões. A obra foi concluída em 1913, com a inauguração oficial em 1914, mas a divisão territorial e os privilégios dos americanos geraram ressentimento entre os panamenhos, que não podiam acessar a área sem autorização especial.
O descontentamento culminou em protestos históricos, como a “Operação Soberania” em 1958, onde estudantes fincaram bandeiras panamenhas na Zona do Canal, e a Marcha Patriótica de 1959, que terminou em confrontos. Esses atos de resistência reforçaram a demanda por um novo tratado que garantisse a soberania panamenha sobre o canal.
Em 1964, o “Dia dos Mártires” marcou o limite do conflito, com mais de 20 mortos em confrontos entre estudantes e policiais americanos. Esse evento levou o presidente panamenho Roberto Chiari a romper relações com os EUA, pressionando por negociações que resultariam, anos depois, nos tratados Torrijos-Carter de 1977. Esses pactos definiram a transferência do canal ao Panamá em 31 de dezembro de 1999.
A devolução oficial foi celebrada com grandes eventos em 1999. A presidente Mireya Moscoso hasteou a bandeira panamenha, simbolizando a soberania total do país. O Canal do Panamá tornou-se um exemplo de gestão eficiente e de um símbolo que reafirma a luta panamenha por sua autonomia e controle sobre seus recursos estratégicos.
Como funciona o canal do Panamá?
O processo funciona da seguinte forma:
- Navio chega ao canal e espera em um local determinado;
- Capitão é obrigado a ceder o comando da embarcação para um funcionário da Autoridade do Canal do Panamá (ACP), treinado para conduzir embarcações ao longo do canal;
- Águas do lago artificial Gatún, lago artificial localizado 26 metros acima do nível do mar, e de grandes piscinas, são drenadas para o canal, de forma que seu volume de água aumente e permita ao navio flutuar em um ponto mais alto;
- Embarcação consegue subir de nível e percorrer o resto da passagem, que possui 82 km de comprimento.
Em resumo, trata-se de um sistema mecânico muito interessante, que utiliza a gravidade para escoar a água e controlar o fluxo do trânsito.
Além dos manobristas de embarcações, existem barcos rebocadores próprios que guiam os navios durante o trajeto. Como o número de funcionários é limitado, há uma ordem preferencial que precisa ser seguida. Logo, são primeiramente conduzidos aqueles que agendaram a travessia. Quem não realizou o agendamento tem que esperar em uma fila, que pode durar dias.
A intenção é permitir que apenas pessoas tecnicamente capacitadas possam realizar esse serviço, com o intuito de evitar acidentes. Para se ter uma noção, o Canal de Suez ficou fechado por alguns dias em 2021, por conta de uma embarcação que encalhou e impediu o trânsito no local, e contou com prejuízos estimados em mais de US $38,4 bilhões. Esse é o tamanho da responsabilidade que um canal comercial possui.
A taxa de travessia varia conforme a embarcação, a carga, o momento em que a passagem foi comprada (quem compra com antecedência tem um preço menor, normalmente) e o nível de água no sistema. Em média, é possível calcular o valor de US $8,73 por tonelada de carga movimentada ou US $143 mil por embarcação.
Uma curiosidade: o menor valor já pago para atravessar o Canal do Panamá foi de US $0,36, pelo escritor americano Richard Halliburton, que percorreu o caminho a nado em 1928.
A importância do Canal do Panamá e a globalização
Os Estados Unidos são o principal cliente do canal, representando quase 72% da carga transportada, seguidos pela China e pelo Japão. Essa dependência faz do canal um eixo de grande relevância para o comércio global e, particularmente, para a economia americana, que utiliza a rota para exportações e importações.
Não só para o comércio internacional, mas também para o próprio Panamá, o canal é de uma vantagem econômica enorme. Anualmente o país lucra até US$ 1,7 bilhão com ele, o equivalente a quase 3% do PIB do país.
Recentemente, devido à seca, a administração do canal reduziu o número de travessias diárias e aumentou os preços. Apesar dessas limitações, o canal gerou um lucro líquido de US$ 3,45 bilhões em 2024, evidenciando sua relevância econômica tanto para o Panamá quanto para os países que dependem dele.
As tarifas elevadas causaram tensões comerciais, especialmente com os Estados Unidos. Recentemente, Donald Trump reafirmou sua intenção de obter o controle da Groenlândia e do Canal do Panamá, considerando ambos estratégicos para a segurança nacional dos EUA.
Questionado sobre o uso de força militar ou econômica para alcançar esses objetivos, Trump não descartou nenhuma possibilidade. Ele afirmou não poder garantir que tais medidas seriam evitadas, levantando preocupação internacional.
Em dezembro, Trump criticou as taxas cobradas aos navios americanos pelo Canal do Panamá, declarando que os EUA estão sendo enganados. Ele sugeriu que o canal deveria ser devolvido aos Estados Unidos, sem apresentar detalhes sobre como isso seria concretizado.
O presidente do Panamá, José Raúl Mulino, respondeu firmemente pelo X, rejeitando qualquer tentativa de controle americano. Ele reafirmou que o Canal do Panamá pertence integralmente ao país e que essa soberania será mantida.
Ficou fácil de entender a importância do Canal do Panamá? Qualquer dúvida, deixa para a gente nos comentários!
Publicado oficialmente em 21/07/2021, atualizado em 23/01/2025.
Referências
- CURSOH – Qual a diferença entre um estreito e um canal?
- Dicionário Michaelis/ Definição de “istmo”.
- Rafael Battaglia/ Super Interessante: Infográfico: como funciona o Canal do Panamá?
- Fazcomex: Canal do Panamá: O que é e como funciona.
- Karina Lopes; João Gonçalves/ Politize!: O que é globalização?
- BBC News Brasil: Quanto ganha o Panamá com seu famoso canal (e quem se beneficia desse lucro).
- Ramón Muñoz/ El País: Panamá inaugura seu novo Canal como um ato de reivindicação patriótica.
- BBC News Brasil – Por que o Canal do Panamá é crucial para os EUA e a China
- DW Brasil – Por que Trump ameaça tomar o Canal do Panamá