TikTok não está à venda, mas não faltam ofertas em cima da mesa

"A ByteDance não tem planos para vender o TikTok". Rede social apagou-se e voltou a acender-se, mas tem agora menos de 75 dias para encontrar um comprador para o negócio nos Estados Unidos. Entre criadores de conteúdo e membros da administração, há fortes concorrentes a querer comprar o TikTok.

Fev 5, 2025 - 08:20
 0
TikTok não está à venda, mas não faltam ofertas em cima da mesa

O TikTok apagou-se e não chegou a 12 horas para voltar a brilhar. Assim se pode descrever o apagão mais breve de uma tecnológica nos Estados Unidos da América (EUA) durante a mudança de presidentes. Mas a história promete não ficar por aqui, até porque o TikTok tem até 5 de abril para prestar novas contas, e o número de ofertas não para de crescer.

Depois da rede social de origem chinesa ter tido ordem do Supremo Tribunal para suspender o seu funcionamento nos EUA, Donald Trump, que tomou posse como 47º presidente dos EUA, deu um passo atrás neste bloqueio. Afinal de contas, Trump é considerado o ‘Presidente TikTok’ devido a toda a campanha presidencial que desenvolveu na rede social.

Prontamente de regresso ao ativo, Trump terá outras condições para manter o TikTok ativo no país onde soma 170 milhões de utilizadores. Primeiramente, o novo presidente quer que 50% da rede social seja detida por uma entidade norte-americana. Isso pode trazer alguns problemas para a ByteDance, uma vez que já tinha rejeitado a venda do seu produto mais famoso.

Ainda o TikTok não tinha apagado a luz e a “CNBC” revelava que a startup Perplexity AI, fundada em 2022 e conhecida por ser uma das rivais do ChatGPT, procurava uma fusão com a divisão norte-americana do TikTok para formarem uma parceria.

Esta fusão, calculada pela Perplexity AI, permitiria que a maioria dos investidores da ByteDance mantivessem as suas participações acionistas, enquanto a startup ganharia conteúdo de análise em vídeo.

Caso a ByteDance seja mesmo forçada a vender metade a uma empresa norte-americana, a Perplexity AI poderá estar bem posicionada, uma vez que terminou 2024 com uma avaliação de nove mil milhões de dólares (8,6 mil milhões de euros). Uma das suas vantagens – e uma vez que a ByteDance já deu a entender que não vai abdicar do TikTok US – é a proposta de uma fusão, cujo negócio pode ascender aos 50 mil milhões de dólares (48 mil milhões de euros).

Outra proposta em cima da mesa é a do multimilionário Kevin O’Leary (um dos tubarões do programa Shark Thank) e de Frank McCourt (dono dos Los Angeles Dodgers), com o nome “The People’s Bid for TikTok”. Mas esta proposta foi diferente daquela feira pela Perplexity, posto que o grupo apresentou um valor de 20 mil milhões de dólares para adquirir o TikTok US.

Este grupo apoiado por investidores famosos revelou a proposta à ByteDance na quinta-feira, no dia anterior ao Supremo Tribunal decretar o encerramento da rede social com efeitos a partir de domingo, 19 de janeiro. “Estamos a lançar a solução no Capitólio. Se o acordo acontecer, vai reescrever as regras do poder das redes sociais, tudo nos termos americanos”, escreveu O’Leary nas suas redes sociais.

Outro interessado em comprar o TikTok será Jimmy Donaldson, mais conhecido no mundo cibernética como MrBeast. O criador de conteúdo, que soma mais de 340 milhões de subscritores no Youtube e mais de 113 milhões de seguidores no TikTok, admitiu em várias redes sociais o interesse na compra: “muito bem, vou comprar o TikTok para que não seja banido. TikTok, posso tornar-me o vosso novo CEO”, brincou o influencer.

Depois de Trump apontar para Elon Musk, o presidente virou-se para outro tecnológico. Larry Ellison, cofundador da Oracle, já tinha entrado na primeira corrida à compra, em 2020, e embora tenha desistido, pode estar novamente interessado. Nas palavras de Trump, o propósito era Ellison comprar o TikTok US e “dar metade aos EUA”, num negócio que para o tecnológico “parece bem”.

De facto, a administração Trump estará a negociar um acordo, que envolve a Oracle e um grupo de investidores, para adquirir a operação global do TikTok, sendo este o movimento mais ambicioso até à data. Neste acordo, a ByteDance ficaria com uma parte da operação.

O ex-Secretário do Tesouro da primeira presidência de Trump, Steven Mnuchin, reentrou na discussão para adquirir a plataforma de origem chinesa, indicando estar a juntar um novo grupo de investidores para comprar o TikTok. “Apenas colocámos [a compra] em pausa porque a China não estava disposta a negociar. Agora que o Presidente Trump quer um acordo, obviamente que vamos seguir de perto estes próximos 75 dias”, disse Mnuchin.

Embora sem confirmação oficial, também a Microsoft terá demonstrado interesse na operação do TikTok nos EUA. A informação foi partilhada por Trump a 27 de janeiro, tendo em conta que a tecnológica estava entre os maiores licitadores para a sua compra em 2020, e terá evidenciado novas oportunidades para a aquisição.

Fundo soberano pode ser suficiente?

Nos últimos desenvolvimentos, Donald Trump assinou esta segunda-feira, 3 de fevereiro, uma ordem executiva para a criação de um fundo soberano no espaço de um ano, estando tal a cargo dos Departamento do Tesouro e do Comércio.

Embora vago em detalhes, a ordem executiva dá a estes Departamentos (o equivalente a ministérios em Portugal) um prazo de 90 dias para apresentar planos para a fundação do fundo, nomeadamente recomendações sobre “mecanismos de financiamento, estratégias de investimentos, estrutura de fundo e um modelo de governança”.

Na visão do presidente, esta poderá ser uma solução para salvar o TikTok em território americano. No entanto, apresenta-se o problema temporal, visto que a aplicação de vídeos curtos tem até início de abril.

“Vamos fazer algo, talvez com o TikTok, talvez não. Se conseguirmos o acordo certo, faremos. Caso contrário, não faremos… talvez coloquemos isso no fundo soberano”, atirou Trump.

Para já, pouco se sabe sobre o futuro que a filial norte-americana vai tomar, apenas que tem de ser vendida ou arrisca nova suspensão do serviço.

Visão de um analista

O analista Ruben Ferreira, responsável pelas operações em Portugal da fintech Flow Community, vê o único problema assente no facto da propriedade do TikTok estar sob uma empresa chinesa. “As autoridades dos EUA alertaram, consistentemente, que o TikTok pode ser forçado pelas autoridades chinesas a partilhar dados sensíveis sobre os utilizadores americanos, algo que pode permitir espionagem ou influência sobre cidadãos americanos”, destaca ao Jornal Económico.

No fundo, a decisão tomada por Biden, aquando da assinatura do Protecting Americans from Foreign Adversary Controlled Applications Act, assenta no protecionismo norte-americano (também defendido por Trump) e “enfatiza a necessidade de abordar as ameaças à segurança nacional em detrimento das preocupações sobre a limitação da liberdade de expressão”.

E pode o governo dos EUA romper com a liberdade de expressão dos seus cidadãos? Tanto o pode, quanto o fez. No entanto, e tal como Ruben Ferreira refere, “a União Americana pelas Liberdades Civis (ACLU) e outras organizações de direitos digitais argumentam que uma proibição total do TikTok poderia infringir os direitos da Primeira Emenda dos utilizadores americanos”, uma visão partilhada por várias críticos que, “apontam a inconsistência em atacar o TikTok por questões de privacidade de dados e ignorar problemas semelhantes em outras plataformas de redes sociais”.

E quem será afetado se o TikTok se apagar definitivamente?

Todos, mas principalmente criadores de conteúdo e empresas que se apoiem neste formato para obter receitas extra. Para Ruben Ferreira, “banir permanentemente [o TikTok] pode ser consequências significativas para os criadores de conteúdos que dependem da plataforma para obter rendimentos, para se envolverem na comunidade e parcerias com marcas, bem como para a comunidade em geral”.

Além destes influencers, “as empresas também sofrerão, dado o papel da plataforma em impulsionar as vendas e o envolvimento com o cliente”. Embora existam plataformas semelhantes a atuar nos Estados Unidos, o TikTok expandiu-se de forma exponencial e tem sido o foco.

“A indústria musical, que depende muito do TikTok para a promoção e descoberta, pode enfrentar desafios significativos. Especificamente, os artistas e profissionais de marketing podem encontrar dificuldades em chegar ao seu público, uma vez que as plataformas alternativas não possuem as vantagens algorítmicas distintas” da plataforma chinesa, destaca o responsável da Flow Community.

TikTok não está à venda

Com tantas tentativas de compra para ‘legalizar’ nos Estados Unidos aquela que é a rede social chinesa mais famosa em território norte-americano, o TikTok teve de vir a público garantir que não está à venda.

As declarações foram proferidas em mais do que uma ocasião, e o assunto ficaria por aí. Afinal, o objetivo da ByteDance é manter o controlo absoluto do TikTok, com as características a que os utilizadores se habituaram (com exceção das tradicionais atualizações).

Em abril de 2024, quando a ordem de suspensão do serviço começou a ser abordada, a ByteDance emitia um simples comentário com uma linha: “A ByteDance não tem planos para vender o TikTok”.

Manteve os seus pés assentes e foi mesmo a tribunal lutar pela “inconstitucionalidade” perante a lei que impedia a forma de expressão livre. “Estejam descansados… Não vamos a lado nenhum”, escrevia então o CEO do TikTok aquando da assinatura de Joe Biden na proibição.

Mesmo assim, um dos maiores investidores da ByteDance, o CEO da General Atlantic, Bill Ford, revelou recentemente que a plataforma irá chegar a um acordo dentro do tempo proposto pelo novo presidente. “É do interesse de todos” manter o TikTok a funcionar nos Estados Unidos, indicou o responsável.

A hipótese de cumprir todos os requisitos em território americano nunca será suficiente, uma vez que o governo dos EUA irá sempre colocar a segurança dos dados como prioridade. “A conformidade com os requisitos regulamentares por si só pode não garantir a operação contínua da aplicação nos EUA. AByteDance, uma empresa sediada numa nação estrangeira adversária, é questão principal.”, adianta Ruben Ferreira.

Musk quer comprar?

A ideia foi lançada pelos chineses à “Bloomberg”, que citavam fontes dentro de negociações que a ByteDance veio contestar como “ficção”. Contudo, o empresário nunca o confirmou.

Mas há uma verdade no meio da história. É que enquanto Trump em algum momento temporal se manifestou contra a rede social, Musk sempre foi um dos maiores apologistas da tecnologia. O homem mais rico do mundo e dono do X falou sobre o assunto e revelou que era contra o apagão do TikTok, mesmo que isso beneficiasse a sua rede social.

“Há muito tempo que sou contra a proibição do TikTok, porque vai contra a liberdade de expressão. Dito isto, a situação atual em que o TikTok pode operar nos EUA, mas o X não pode operar na China, é desequilibrada. Algo precisa de mudar”, escreveu Musk numa publicação da rede social que comprou em 2022.

Donald Trump já sustentou que ficaria confortável com Elon Musk, que será um dos líderes do Departamento de Eficiência do Governo, a comprar o TikTok. A confirmar-se, a fortuna de Elon Musk iria voltar a disparar e o seu património mais recheado, com duas redes sociais no seu portefólio.