Sony insiste na Guerra dos Consoles, abandonada pelos "rivais"

Sony mantém guerra abandonada por Nintendo e Microsoft, e nem estúdios de games querem continuar insistindo em lançamentos exclusivos Sony insiste na Guerra dos Consoles, abandonada pelos "rivais"

Fev 6, 2025 - 01:39
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Sony insiste na Guerra dos Consoles, abandonada pelos "rivais"

A Guerra dos Consoles acabou. Com a decisão da Microsoft em lançar Forza Horizon 5 para o PS5 nos próximos meses, e que mais de suas principais franquias deverão chegar aos consoles da Sony e Nintendo no futuro, não há mais uma concorrência ferrenha entre as companhias para dominar o mercado de games, com hardwares dedicados a serem as únicas plataformas de suas marcas mais valiosas.

Por mais que a Nintendo pratique a mesma estratégia do Jardim Murado da Apple, a casa do Mario há tempos prefere usar uma abordagem de "segundo console", que permitiu ao Switch vender mais que o PS5 e o Xbox Series X|S, somados.

Microsoft adota estratégia multiplataforma, Nintendo faz o que lhe dá na telha, e Sony insiste em atacar um terreno vazio (Crédito: FalcoFanArter/DeviantArt/Santa Monica Studio/Sony Interactive Entertainment/343 Studios/Microsoft/Nintendo)

Microsoft adota estratégia multiplataforma, Nintendo faz o que lhe dá na telha, e Sony insiste em atacar um terreno vazio (Crédito: FalcoFanArter/DeviantArt/Santa Monica Studio/Sony Interactive Entertainment/343 Studios/Microsoft/Nintendo)

No entanto, ninguém avisou a Sony de que a guerra acabou. A gigante japonesa continua insistindo na estratégia de plataforma e games exclusivos, ports para PC cheios de bugs, que exigiam uma conta da PSN até pouco tempo atrás, e uma atualização de hardware cara e desnecessária.

Sony e a Guerra do Eu Sozinho

Vamos analisar o que aconteceu na última década. O Wii U, lançado em 2012, foi a última tentativa da Nintendo de bater de frente com Sony e Microsoft, introduzindo um hardware alinhado ao PS3 e Xbox 360, a fim de atrair desenvolvedoras de jogos AAA, e os consumidores desses games, que ignoraram o Wii por anos, ao taxá-lo como uma plataforma "fraca".

O problema, o público fiel da Nintendo não se importa com isso. Estes querem Mario, The Legend of Zelda, Metroid, F-Zero, Kirby, Donkey Kong, franquias que nunca serão disponibilizadas fora de seus muros (Pokémon não conta, ao menos, não totalmente), a decisão de abraçar o mobile foi uma imposição dos acionistas após o fracasso do Wii U, que não atraiu gamers novos, uma estratégia quase que totalmente revertida, após o sucesso do Switch.

O Wii foi um sucesso por ser um console diferente de tudo o que vinha sendo feito até então, ao focar totalmente na captura de movimentos e experiências alinhadas à nova abordagem, em um hardware marginalmente melhor do que o GameCube, a estratégia do "desenvolvimento lateral com tecnologia existente" de Gunpei Yokoi.

Isso explica, por exemplo, o Switch ter sido lançado em 2017 com um hardware já um tanto defasado, e o Switch 2 também não será tecnologicamente parelho ao PS5 e Xbox Series X, porque para a Nintendo, isso pouco importa. Desde que a empresa centenária continue introduzindo novas experiências e games de seus personagens, e o preço do console seja acessível (leia-se, mais barato que os demais), a nova plataforma continuará sendo o "segundo console" que todo mundo vai comprar para jogar Mario e cia., em qualquer lugar e de modo oficial.

Por fim, o lançamento de um novo console da Nintendo não obedece há muito tempo o ciclo de introdução de uma nova geração, a empresa apenas segue seu próprio ritmo, sem se importar com o mercado externo.

Dizer que o Switch 2 vai vender muito é atestar o óbvio (Crédito: Divulgação/Nintendo)

Dizer que o Switch 2 vai vender muito é atestar o óbvio (Crédito: Divulgação/Nintendo)

Enquanto isso, a Microsoft percebeu que faz mais sentido transformar o Xbox em um ecossistema multiplataforma, não mais amarrado a seus consoles, por mais que os "mil grau" da vida protestem. O Game Pass e o Xbox Cloud Gaming permitem ao jogador curtir diversos games por streaming, seja no mobile, em uma Smart TV, ou em um PC mais fraco que não suporte execução local, e deseja também levar o serviço às plataformas da Sony e Nintendo no futuro.

Só que isso não basta, e a empresa derrubou a exclusividade de games de estúdios que controla, como a id Software, no que Indiana Jones and the Great Circle chegará ao PS5 no futuro, e o mesmo deve acontecer com títulos como Starfield, o novo Fable, e Microsoft Flight Simulator 2024; com o anúncio de Forza Horizon 5 se tornando multiplataforma, o Xbox deixa claro que não insistirá na estratégia de lançamentos exclusivos, e as próximas a pularem o muro, segundo rumores, são as outrora joias da coroa, Halo e Gears of War.

Phil Spencer, chefe da divisão de games da Microsoft, atribui tal mudança de mentalidade à Geração Z, consumidores que cresceram em um mundo digital, e alheios à ideia de consumir conteúdo em apenas uma plataforma. Para acompanhar esse público, que quer jogar nos gadgets que já possui, o Xbox foi forçado a se destacar dos consoles, uma estratégia alinhada com o foco de Redmond em Inteligência Artificial (IA), nuvem, e soluções corporativas, do CEO Satya Nadella.

Isso não significa que não haverá novos consoles Xbox, Spencer se comprometeu com uma próxima geração de plataformas dedicadas, mas abandoná-los em prol de adotar a estratégia da Sega não seria um absurdo completo; por fim, excluindo consoles e PCs rodando games localmente (Steam Deck e similares inclusos) que não dependam da internet para serem apreciados, o streaming exige conexões estáveis, uma boa latência, e um serviço que não fique fora do ar por 36 horas, ou por quase um mês.

Microsoft aposta no "Xbox em todo lugar", onde um console não é tão necessário (Crédito: Divulgação/Microsoft)

Microsoft aposta no "Xbox em todo lugar", onde um console não é tão necessário (Crédito: Divulgação/Microsoft)

Se a Nintendo e a Microsoft não estão mais interessadas na Guerra dos Consoles, isso significa que a Sony venceu por W.O., certo? Mais ou menos.

No que tange ao mercado, a Sony hoje o domina completamente, se desconsiderarmos a casa do Mario, vista pela Microsoft e reguladores como uma companhia que mira em um público completamente diferente. Se observarmos o market share, a Sony responde por quase 50% (dados de 2021), com a Nintendo em segundo lugar, mas sem esta, a Sony fica com 64,8% do mercado, e a Microsoft, 35,2%.

A Guerra de Consoles se sustentava em empresas investindo pesado em hardware próprio e jogos exclusivos, a Nintendo pegou pesado a fim de garantir franquias e títulos valiosos apenas em seus sistemas, e todas as concorrentes fizeram o mesmo por décadas, até agora. A Microsoft não mais vê sentido nessa abordagem, e a Nintendo se fechou em seu universo particular, pois seus consumidores fiéis continuarão comprando, independente do que ela faça.

Já a Sony continua usando as mesmas estratégias de exclusividade e agressão, contra inimigos que não mais se importam com a guerra. Mesmo desenvolvedoras parceiras de longa data, como a Square Enix, entenderam que ficar amarrado a um só sistema, no cenário atual, é um convite ao desastre financeiro, e prometeu levar futuros lançamentos AAA de suas mais valiosas marcas, incluindo Final Fantasy, por anos indissociável da divisão PlayStation, a mais plataformas.

Os games first party da Sony, por outro lado, continuam exclusivos PlayStation em consoles, e diferente da Microsoft, não possuem lançamentos simultâneos com o PC. Não obstante, cada novo título que chega aos computadores é acompanhado de uma onda enorme de críticas, sobre principalmente a estabilidade, uma constante que parece até intencional.

Sem contar a decisão controversa de exigir uma conta da PSN no PC, para que God of War: Ragnarok, Marvel's Spider-Man 2, Horizon: Forbidden West e outros pudessem ser jogados. A exigência, que só caiu recentemente (mas a Sony atrelou a conta a vantagens aos jogadores), fez com que esses games ficassem indisponíveis em dezenas de países, e mesmo quem os comprou antes do login ser imposto, se viu impedido de jogar após a mudança.

Como se não bastasse, a Sony insistiu sozinha em uma atualização de hardware de meio de geração com o PS5 Pro, um upgrade caro e questionável, apenas para integrar IA, a buzzword da vez, com melhorias nulas para imperceptíveis no melhor cenário, e desempenho inferior no pior. E para adicionar insulto à injúria, o novo hardware depende de um upgrade adicional para reconhecer mídias físicas, encarecendo ainda mais o produto final para quem têm discos do PS4 e PS5.

Além de melhorias imperceptíveis na performance (quando não é pior mesmo), PS5 Pro é um upgrade ainda mais caro para quem possui games em mídia física (Crédito: Divulgação/Sony)

Além de melhorias imperceptíveis na performance (quando não é pior mesmo), PS5 Pro é um upgrade ainda mais caro para quem possui games em mídia física (Crédito: Divulgação/Sony)

Mesmo que você entenda que a Sony venceu a Guerra dos Consoles (o que muitos fanboys farão, mas ninguém se importa com eles), isso soa como uma vitória vazia, contra inimigos que abandonaram uma contenda sem sentido, e preferiram adotar outras estratégias de negócios, mais vantajosas financeiramente para Microsoft e Nintendo.

Pior, a divisão PlayStation continua lutando, mantendo uma estratégia de agressão que ninguém se dará ao trabalho de responder. Quem foca em games de outros estúdios pode escolher onde jogar, quem possui um PC pode esperar um ano ou mais por um título da PlayStation Studios, enquanto joga os dos estúdios Xbox no desktop, laptop ou Steam Deck, ou mesmo via streaming, e os first party da Nintendo em um Switch 2, que dificilmente será tão caro quanto os concorrentes.

A Sony pode até se gabar de ter vencido, mas ninguém dará atenção ou importância a isso, sejam Microsoft e Nintendo, estúdios e desenvolvedores, ou mesmo os gamers.

Fonte: Kotaku

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