Polêmico filme que pode tirar Oscar de Ainda Estou Aqui chega aos cinemas

O polêmico Emilia Pérez chegou hoje aos cinemas nacionais em meio a muitas turbulências e uma receptividade nada boa por parte dos brasileiros. Com 13 indicações, a produção da Netflix enfrenta não apenas a forte concorrência, mas também uma série de eventos dramáticos que certamente impactarão na corrida ao Oscar.

A produção dirigida por Jacques Audiard, traz uma narrativa ousada ao misturar drama, crime e musical. A trama acompanha Rita (Zoe Saldaña), uma advogada frustrada que recebe uma proposta inusitada de um dos criminosos mais procurados do México. Sua missão é ajudá-lo a desaparecer e renascer como Emilia Perez. 

Com um roteiro audacioso e uma abordagem singular, o filme se distancia das tradicionais histórias sobre cartéis. Mas o que poderia ser uma brilhante jornada de representatividade no Oscar, se tornou um dos históricos mais polêmicos na história da competição.

Controvérsias em torno de Emilia Pérez

Enquanto brilha com suas impressionantes nomeações, é impossível ignorar as discussões que tomaram conta da mídia nas últimas semanas. O filme, que retrata a realidade de uma mulher trans que luta por sobrevivência no México, vem sendo questionado por pecar em questões delicadas sobre identidade, estereótipos e apropriação cultural. 

No centro da tempestade está a atriz Karla Sofía Gascón, protagonista de Emilia Pérez, cuja carreira ganhou destaque de forma surpreendente. Cotada para o Oscar de Melhor Atriz, Gascón se tornou o principal alvo das críticas em torno do filme, complicando ainda mais a trajetória em direção à estatueta dourada.

As polêmicas foram desencadeada por uma declaração da própria atriz, que sugeriu ataques vindos da equipe do filme Ainda Estou Aqui, estrelado por Fernanda Torres. A atriz, em um primeiro momento, parecia implicar diretamente com a produção brasileira, mas depois se explicou dizendo que se referia ao ambiente tóxico nas redes sociais.

 A repercussão da fala foi tanta que surgiram especulações sobre ela estar violando as regras do Oscar, que evitam qualquer tipo de desavença pública entre concorrentes. Mesmo com o esclarecimento, o estrago estava feito, e o nome de Gascón foi diretamente para o centro das atenções.

Um diretor francês

Os comentários de Gascón não foram as primeiras polêmicas envolvendo o filme, que também não passou ileso em termos de crítica cultural. A produção foi amplamente criticada no México, país onde a história se passa, por retratar estereótipos de forma excessiva e, segundo alguns, explorar de maneira sensacionalista uma das maiores crises humanitárias da atualidade. 

O fato de o elenco ter poucos mexicanos e a maior parte dos papéis de destaque ser ocupada por atores estadunidenses, como Zoe Saldaña e Selena Gomez, gerou ainda mais desconfiança entre os críticos e o público local. O diretor Jacques Audiard, por sua vez, defendeu sua escolha de locações e elenco, dizendo que sua experiência no país não deveria ser limitada a uma visão puramente mexicana.

Embora o cineasta tenha reconhecido que fez várias visitas ao México, ele afirmou que não queria se sentir restrito pelas locações reais.  Em uma entrevista ao Hollywood Reporter, ele revelou que durante suas visitas, sentiu que filmar no país poderia ser “limitante” para a visão que tinha para a produção. A resposta, no entanto, não agradou a muitos, que argumentam que a representação genuína de uma cultura deve ser feita com mais respeito e responsabilidade.

Essas declarações geraram uma onda de críticas, especialmente quando Audiard revelou que as imagens que ele tinha em mente para o filme não caberiam nas ruas do país. O ator mexicano Mauricio Morales, em resposta, escreveu em suas redes sociais: “Quando os mexicanos lhe dizem que um filme está retratando um México cheio de estereótipos, ignorância, falta de respeito e está lucrando com uma das mais graves crises humanitárias do mundo, talvez… apenas talvez, acreditem nos mexicanos“.

Posts polêmicos

Na sequência desses acontecimentos, posts antigos de Gascón na rede social X, datados de 2020 e 2021, começaram a circular nas redes sociais. As postagens em questão causaram grande indignação, pois continham declarações preconceituosas sobre diversos temas, como críticas à diversidade no Oscar e até mesmo comentários sobre muçulmanos e a figura de George Floyd. 

A atriz se viu forçada a pedir desculpas publicamente, afirmando que lamentava profundamente o sofrimento causado por suas palavras e reforçando seu compromisso com a luta por um mundo mais justo. No entanto, o vídeo não foi bem visto publicamente e as críticas continuaram, com muitos questionando se ela realmente havia aprendido com seus erros.

Após a repercussão, Gascón apagou a conta no X e pediu desculpas, afirmando que lamentava profundamente os comentários e reconhecia o sofrimento que havia causado. “Como alguém em uma comunidade marginalizada, conheço muito bem esse sofrimento e lamento profundamente àqueles que causei dor. Durante toda a minha vida, lutei por um mundo melhor“, disse a atriz em um comunicado.

Consequências para a Netflix e o futuro de Gascón

Em meio a toda essa controvérsia, a Netflix decidiu tomar medidas em relação a Gascón. A gigante do streaming optou por afastá-la das campanhas publicitárias do filme. Além disso, a atriz se viu forçada a lidar com as repercussões de seus antigos posts, que passaram a ser um tema recorrente nas entrevistas sobre Emília Pérez. A decisão da Netflix pode ser vista como uma tentativa de minimizar os danos à imagem do filme, que, apesar de suas controvérsias, segue forte na corrida pelo Oscar.

Enquanto a atriz tenta superar as controvérsias, Emília Pérez segue como uma das grandes apostas da Netflix para a temporada de premiações. O filme já é considerado uma das maiores chances de a plataforma conquistar o tão almejado Oscar e, com 13 indicações, algumas estatuetas devem ser conquistadas. 

Emília Pérez está em cartaz nos cinemas.

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