O futuro já chegou à nossa conta bancária
Havendo consciência dos riscos e vontade de os minimizar, a inteligência artificial 'financeira' não será exceção.
A inteligência artificial está cada vez mais presente em todas as áreas da nossa vida. A nossa interação com a IA vai desde o uso de aplicações de inteligência artificial generativa, como o Chat GPT ou o Copilot, a usos mais subtis, que podem até ser-nos desconhecidos, mas que, na prática, têm sérias implicações no nosso dia-a-dia.
Todos os dias recebemos anúncios e conteúdo personalizados, resultantes de tecnologias de inteligência artificial. Todos os dias nos cruzamos com termos como “AI”, “machine learning” e “Big Data”, e estes encontros com a inteligência artificial, sendo eles propositados ou fortuitos, entusiasmam-nos mais do que nos preocupam.
No entanto, quando esta inteligência artificial — tão conhecida quanto misteriosa para a maioria — começa a influenciar decisões mais sérias, como investimentos financeiros, avaliações de crédito ou gestão patrimonial, o cenário altera-se. O impacto torna-se mais tangível e, com ele, pode surgir uma compreensível apreensão.
Nos últimos anos, a inteligência artificial tem transformado radicalmente o setor financeiro, levando a mudanças profundas e crescimentos significativos. O presidente e COO da JPMorgan Chase & Co, Daniel Pinto, estima que o uso de inteligência artificial generativa possa trazer ao banco um valor acrescentado de até dois mil milhões de dólares.
Um dos principais benefícios da IA é a possibilidade de obtermos serviços financeiros personalizados. Hoje, é comum que aplicações bancárias utilizem algoritmos para sugerir produtos adaptados às necessidades individuais, como planos de poupança ou investimentos. Em Portugal, vários bancos já implementaram ferramentas de IA para análise de dados automatizada, permitindo uma experiência mais intuitiva e adaptada às necessidades de cada um.
A conveniência na interação com as instituições de crédito é outro aspeto central. Chatbots e assistentes virtuais, como os presentes nas aplicações bancárias, estão disponíveis 24 horas por dia para responder a dúvidas, resolver problemas e realizar operações básicas. O uso de IA para detetar fraudes em tempo real, que aumenta a segurança das transações, é também uma vantagem incontestável.
Desde assistentes virtuais até à análise de dados em tempo real, a IA promete maior conveniência, personalização e eficiência nos serviços bancários e financeiros. Mas quais são os verdadeiros impactos para o consumidor? Devemos ter medo desta revolução no setor financeiro, que poderá afetar os nossos rendimentos e poupanças?
Há, efetivamente, riscos que têm de ser acautelados. As preocupações mais prementes passam pela privacidade dos dados e o potencial “algorithmic bias”, ou enviesamento algorítmico, que pode acentuar a discriminação em processos de avaliação do risco de crédito, prejudicando certos consumidores de forma injusta.
Também a substituição de interações humanas por IA pode ser um desafio para muitos consumidores que valorizam o contacto pessoal nos serviços financeiros. Essa falta de “toque humano” pode gerar sentimentos de desconfiança ou desconforto. A confiança é a essência do setor bancário. É crucial que a IA evolua de forma a não comprometer a confiança na sua utilização pelas instituições onde guardamos o nosso dinheiro, que nos concedem crédito e que nos recomendam planos de investimento.
É recorrente a projeção de cenários distópicos associados ao aparecimento de novas tecnologias de informação e comunicação. Aconteceu com a rádio há um século, depois com a televisão, o computador e a Internet. Em 1970 foi emitido o primeiro cartão de crédito moderno em Portugal, em 1990 foram instalados os primeiros TPA e, em 2000, apareceu o homebanking. Nos anos 80, o Excel fazia em minutos trabalhos que os contabilistas levavam meses a executar.
Todas estas inovações revolucionárias trouxeram consigo riscos e apreensão, mas a economia e a sociedade conseguiram integrá-las, mitigar as suas ameaças e, no final de contas, trouxeram inúmeras vantagens. Havendo consciência dos riscos e vontade de os minimizar, a inteligência artificial não será exceção e, daqui a uns anos, nenhum de nós vai conseguir imaginar a sua vida sem esta tecnologia aplicada ao setor financeiro, tal como hoje não imaginamos a nossa vida sem cartões multibanco, homebanking ou o MB Way.
What's Your Reaction?