Jacques Audiard pede desculpas após críticas a “Emilia Pérez” no México
Filme é acusado de reforçar estereótipos culturais e ignorar representatividade mexicana
Polêmicas sobre representatividade
Jacques Audiard pediu desculpas após a recepção negativa de “Emilia Pérez” no México. O cineasta francês abordou as críticas em entrevista na Cinemateca Nacional do México, onde o filme foi acusado de ignorar aspectos da representatividade local e reforçar estereótipos culturais.
“Se há algo que pareça escandaloso para vocês em ‘Emilia’, eu peço desculpas. O que eu gostaria de dizer é que não estou tentando dar respostas”, afirmou Audiard, reconhecendo as falhas percebidas no longa. Ele acrescentou: “Cinema não oferece respostas, apenas traz perguntas. E talvez essas perguntas oferecidas por ‘Emilia Pérez’ estejam incorretas. Talvez eu só as tenha achado interessantes”.
Filme sobre México sem mexicanos
“Emilia Pérez” enfrentou rejeição entre espectadores e críticos do México por sua abordagem à cultura mexicana e escolha de elenco. Apesar de se passar no México, o filme foi rodado nos arredores de Paris e conta com elenco majoritariamente estrangeiro, incluindo as americanas Zoe Saldaña e Selena Gomez e a espanhola Karla Sofía Gascón.
A ausência de atores mexicanos no elenco principal gerou indignação nas redes sociais. “Um filme sobre mexicanos, dirigido por um homem francês, interpretado por americanos, com uma protagonista da Espanha”, criticou um comentário no X, refletindo a insatisfação de muitos internautas.
Representatividade LGBTQIA+ em debate
Outro ponto controverso foi a forma como o filme retrata a personagem-título, Emilia Pérez, uma mulher trans e ex-líder de um cartel de drogas que busca redenção após uma cirurgia de redesignação sexual. Para o filósofo e cineasta espanhol Paul B. Preciado, a narrativa perpetua estereótipos colonialistas e transfóbicos.
“Carregado de racismo e transfobia, ‘Emilia Pérez’ reforça a narrativa colonial e patologizante não só da transição de gênero, mas também da cultura mexicana”, afirmou Preciado em artigo publicado pelo “El País”.
Reações no México e no exterior
As críticas também incluíram a declaração da diretora de elenco Carla Hool, que justificou a escolha de atrizes estrangeiras por serem “as melhores para encarnar as personagens”, mesmo após audições realizadas no México. A fala provocou menções às grandes atrizes das novelas mexicanas e gerou questionamentos sobre a falta de reconhecimento aos talentos locais.
Durante a cerimônia do Globo de Ouro, onde “Emilia Pérez” foi premiado em quatro categorias, o cineasta italiano Luca Guadagnino abandonou o evento em protesto. Internautas brasileiros e mexicanos se uniram nas críticas, especialmente após o longa desbancar “Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles, na categoria de Melhor Filme em Língua Não Inglesa.
Mesmo assim, a produção segue como uma das favoritas ao Oscar, embora comece a enfrentar resistência crescente entre críticos e espectadores.
What's Your Reaction?