Estreias | “Emilia Pérez” e “Acompanhante Perfeita” chegam ao cinema
Filme francês indicado a 13 Oscars, mas mergulhado em polêmicas, e terror americano elogiado são os principais lançamentos da semana
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A curiosidade brasileira sobre “Emilia Pérez” e um novo terror elogiado pela crítica movimentam a programação de cinema desta quinta (6/2).
O filme francês adquirido pela Netflix já foi considerado favorito ao Oscar, com 13 indicações, e o maior obstáculo para as pretensões de “Ainda Estou Aqui” na premiação. Tudo isso mudou na última semana, numa reversão de expectativas raramente vista na indústria cinematográfica. “Acompanhante Perfeita”, por outro lado, desembarca em meio à aprovação praticamente unânime, e ainda consagra Sophie Thatcher como a nova Scream Queen, após encaixar quatro filmes de terror bem-avaliados em sequência, “Boogeyman: Seu Medo é Real” (2023), “MaXXXine” (2024), “Herege” (2024) e o primeiro grande terror de 2025.
A lista de estreias ainda inclui o pior filme da carreira de Sylvester Stallone e vários lançamentos nacionais. Confira os títulos.
EMILIA PÉREZ
O filme mais falado das últimas semanas, que foi de favorito ao Oscar 2025 a pária na competição, acompanha um líder do cartel mexicano que decide passar por uma transição de gênero para fugir da polícia. Após a transição, ela adota a identidade de Emilia Perez e começa uma nova fase de sua vida. No entanto, a transformação traz desafios inesperados, especialmente em relação ao seu passado criminoso e às consequências de suas ações. Tudo isso, em meio a números de dança e cantoria – o filme é um musical.
O longa do cineasta Jacques Audiard (“O Profeta”) encantou a crítica americana logo em sua première mundial, quando venceu o Prêmio do Júri e um troféu de Melhor Atriz para suas quatro intérpretes principais no Festival de Cannes deste ano – Zoë Saldaña (“Guardiões da Galáxia”), Selena Gomez (“Only Murders in the Building”), Karla Sofía Gascón (“Rebelde”) e Adriana Paz (“Meu Amigo Lutcha”). Entretanto, a imprensa mexicana nunca aceitou a bajulação, acusando o filme de ser ofensivo. Rodado em Paris por um diretor francês, com atrizes americanas e uma protagonista espanhola, “Emilia Pérez” foi acusado de amontoar clichês e preconceitos sobre o México. Grupos LGBTQIA+ também acusaram a narrativa de ser homofóbica, ao reduzir a questão de gênero a uma iniciativa estética e replicar estereótipos.
A crítica ignorou as queixas e “Emilia Pérez” venceu quatro Globos de Ouro, incluindo Melhor Filme de Comédia ou Musical. Em seguida, liderou as indicações ao Oscar 2025 com 13 nomeações, entre elas um feito histórico de Karla Sofía Gascón, que se tornou a primeira transexual indicada ao Oscar de Melhor Atriz. A Netflix, que adquiriu a obra em Cannes, colocou Gascón no centro da campanha para a premiação, ao custo de rebaixar Zoë Saldaña à Atriz Coadjuvante do longa. O esforço promocional parecia encaminhar uma grande consagração, até que tudo desabou.
Em meio aos protestos mexicanos, Gascón acusou a equipe de Fernanda Torres, sua concorrente no Oscar, de tentar prejudicá-la com postagens de ódio, apesar de declarações de solidariedade e elogios da brasileira. A polêmica chamou atenção da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas sobre uma possível violação das regras da disputa da premiação. E também despertou a curiosidade sobre o Twitter da atriz, que se revelou uma Caixa de Pandora. Postagens antigas, trazidas à tona por uma jornalista canadense na quinta-feira passada (30/1), chocaram o público – e os eleitores do Oscar – com declarações islamofóbicas e racistas. Entre os comentários atribuídos a Gascón, ela chama muçulmanos de “retardados” e o Islã de “profundamente repugnante”, se refere a George Floyd, cujo assassinato foi o estopim do movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam), como “um vigarista viciado em drogas” e ironiza a diversidade do Oscar, descrevendo-o como “um festival afro-coreano”.
Os bombeiros da Netflix tentaram afastar Gascón de cena, mas ela deu uma entrevista para a CNN por conta própria, novamente culpando uma campanha de ódio pelas revelações de seu passado polêmico. Como resultado, foi cortada da campanha, que agora tenta conter o estrago e salvar as demais indicações ao Oscar. O problema é que o encanto acabou, a imprensa americana parou de elogiar e as críticas mexicanas ecoam cada vez mais forte. Sem o hype, “Emilia Pérez” revela-se como veio ao mundo, na pele nua de um musical com canções ruins, atuações caricatas e um roteiro constrangedor.
ACOMPANHANTE PERFEITA
O terror tecnológico produzido por Zach Cregger, diretor do elogiado “Noites Brutais”, surpreende com uma mistura de thriller psicológico, vingança sangrenta e ficção científica. A trama acompanha um grupo de amigos cuja viagem de fim de semana se transforma em um pesadelo, após a descoberta de que um dos convidados possui uma companheira robô. A androide, interpretada por Sophie Thatcher (“Yellowjackets”), sofre abusos constantes de seu proprietário humano (Jack Quaid, de “The Boys”), levando a um desdobramento sombrio que desafia os limites da ética e da inteligência artificial.
Originalmente, Cregger planejava dirigir “Acompanhante Perfeita” como seu próximo projeto após o sucesso de “Noites Brutais”, mas ele acabou assumindo outro filme e a tarefa ficou com o autor do roteiro, o estreante Drew Hancock. O trabalho foi bastante elogiado pela crítica, alcançando 93% de aprovação no Rotten Tomatoes.
BLINDADO
O thriller de ação tem a pior avaliação da carreira do astro Sylvester Stallone (“Rambo: Até o Fim”). Quando foi lançado em novembro nos Estados Unidos, o filme de Justin Routt (“The Test”) emocionou 0% da crítica, na média de avaliação do site Rotten Tomatoes. Na trama, Stallone lidera um grupo de assaltantes que ataca, capota e cerca um carro blindado, atrás de uma fortuna em ouro guardada em seu interior. Entretanto, os guardas vividos por Jason Patric (“Velocidade Máxima 2”) e Josh Wiggins (“Max: O Cão Herói”), pai e filho na história, resistem sem se render, recusando-se a abrir a porta do veículo, enquanto recebem ameaças, tiros e fogo. Presos no interior do blindado, eles tentam uma forma de escapar do impasse e garantir sua sobrevivência.
Stallone supostamente filmou todo o seu papel em um único dia de trabalho, o que foi facilitado pela estrutura narrativa, que resume a maioria das cenas de “ação” a conversas entre pessoas separadas por metal blindado – bandidos nervosos do lado de fora e guardas acuados dentro do veículo.
FAMÍLIA
Baseado na história real de Luigi Celeste, o drama italiano explora os traumas geracionais e a violência doméstica, centrando-se num jovem de 20 anos que, em busca de pertencimento, se envolve com um grupo de skinheads enquanto lida com o retorno de seu pai abusivo da prisão, após uma década de ausência. Após a prisão do pai, Luigi, sua mãe Licia e seu irmão Alessandro tentaram reconstruir suas vidas. No entanto, a libertação de Franco trouxe à tona traumas passados, forçando Luigi a confrontar seu pai e os demônios internos resultantes desse relacionamento abusivo.
O desfecho foi parar na imprensa em 2008, virou pena de prisão, gerou um best-seller, um documentário e agora um filme de Francesco Costabile (“Una Femminina”), lançado no Festival de Veneza do ano passado, que rendeu ao intérprete de Luigi, Francesco Gheghi, o troféu de Melhor Ator da Mostra Horizontes. “Família” recebeu críticas positivas por sua abordagem intensa e realista da violência doméstica, filmada como um thriller familiar de final anticlimático.
DRAGON BALL DAIMA
“Dragon Ball Daima” é a última obra de Akira Toriyama, que faleceu antes de seu lançamento, mas deixou sua marca em cada detalhe da produção. Ele não apenas escreveu a história original, mas também desenhou os novos personagens e conceitos, garantindo que a série refletisse sua visão criativa. A produção é, sim, uma série. O lançamento nos cinemas é um apanhado dos primeiros capítulos.
A trama apresenta Goku e seus amigos transformados em versões infantis por uma conspiração misteriosa, forçando-os a explorar um reino desconhecido para reverter essa condição. O anime resgata o humor e a leveza dos primeiros anos da franquia, enquanto mantém a ação intensa característica de “Dragon Ball”. Dirigida por Yoshitaka Yashima (animador de “Dragon Ball Super”), o anime preserva o traço clássico de Toriyama, com um visual vibrante e dinâmico, servindo de tributo à imaginação e ao legado de um dos maiores nomes do mangá e da animação japonesa.
FABULOSOS JOÃO E MARIA
A animação brasileira oferece uma releitura contemporânea do clássico conto dos Irmãos Grimm. Na trama, os irmãos João e Maria residem em uma casa alugada na periferia de uma grande cidade e aspiram a uma vida melhor. Após serem despejados pelo proprietário mal-intencionado, eles fogem para uma floresta encantada para evitar serem levados a um reformatório. Na floresta, encontram seus avós espirituais, que prometem guiá-los de volta para casa, mas, para isso, precisam enfrentar uma bruxa malvada.
O diretor Arnaldo Galvão (“Godofredo”) começou o projeto em 2002, em colaboração com o roteirista Flávio de Souza (“Castelo Rá-Tim-Bum”), e a longa trajetória até a estreia reflete os desafios comuns na realização de animações independentes no Brasil, como financiamento e desenvolvimento técnico.
CAPITÃO ASTÚCIA
A comédia brasileira acompanha um ex-astro mirim, vivido por Paulo Verlings (“Os Parças”), frustrado com sua carreira que decide se refugiar na casa de seu avô para escapar de um revival na televisão. Ao chegar, ele descobre que seu avô, interpretado por Fernando Teixeira (“Ainda Temos a Imensidão da Noite”), está determinado a se tornar um super-herói chamado Capitão Astúcia. A convivência entre os dois evolui para uma amizade profunda, na qual Santiago auxilia o avô a enfrentar os desafios da velhice com coragem e criatividade. O elenco também conta com Nívea Maria (“A Dona do Pedaço”) no papel de Dulce, uma enfermeira que se torna a “Dulcinéia” do herói quixotesco.
O longa de Filipe Gontijo (“A Gruta”) foi bem recebido em diversos festivais, acumulando dezenas de prêmios, incluindo o Prêmio do Público no 55º Festival de Brasília e o de Melhor Filme nos festivais internacionais de Portugal e de Vittorio Veneto, na Itália.
OS SAPOS
Paula, uma mulher de 40 anos, aceita o convite de um reencontro com antigos colegas em uma casa de campo isolada. Ao chegar, descobre que a confraternização foi cancelada e se vê na companhia de dois casais: Luciana e Marcelo, que mantêm uma relação não oficializada há oito anos, e Cláudio e Fabiana, cujo casamento aparentemente feliz esconde uma dinâmica tóxica. A presença inesperada de Paula atua como um catalisador, trazendo à tona conflitos e tensões latentes entre os casais. Decidida a aproveitar o fim de semana, ela navega com humor e ironia pelas complexas relações ao seu redor.
O filme é uma adaptação da peça homônima de Renata Mizrahi e aborda, de forma tragicômica, as dependências emocionais presentes em relacionamentos amorosos. A direção é de Clara Linhart (“Eu Sou Maria”), que já havia explorado essa temática em um curta-metragem homônimo em 2011. O elenco traz Thalita Carauta (“Mania de Você”) no papel de Paula, Karina Ramil (“O Auto da Boa Mentira”) como Luciana, Pierre Santos (“Impuros”) interpretando Marcelo e Verônica Reis (“Cilada.com”) como Fabiana.
ALEGRIA DO AMOR
O drama nacional mistura conflito agrário, identidade quilombola e questões LGBTQIA+, e venceu o Prêmio do Público do Festival Mix Brasil de Cultura da Diversidade. A trama acompanha Dulce, uma jovem quilombola do sertão do Ceará que presencia o assassinato de seu companheiro, Davi, por jagunços a serviço de uma mineradora estrangeira. Ameaçada, ela foge para São Paulo, onde descobre sua mãe biológica, Beatriz, e uma irmã gêmea, Marisa, uma mulher trans proprietária de um karaokê que serve de refúgio para a comunidade LGBTQIA+. Juntas, elas retornam ao sertão com duas missões: celebrar a vitória do quilombo e encontrar o pai que nunca soube da existência das filhas. O elenco conta com Renata Gaspar (“Sob Pressão”) no papel de Dulce, Wallie Ruy (“Me Chama de Bruna”) como Marisa, Sandra Corveloni (“Vale Night”) interpretando Beatriz, além de Suely Franco (“Detetives do Prédio Azul”) e Zezita Matos (“Velho Chico”).
Dirigido por Márcia Paraíso (“Lua em Sagitário”), o filme foi rodado em comunidades quilombolas e envolveu a participação de moradores locais, enriquecendo a narrativa com autenticidade cultural.
A VOZ QUE RESTA
Adaptação da peça homônima do russo-brasileiro Vadim Nikitin (“O Fingidor”), a narrativa centra-se em Paulo, interpretado por Gustavo Machado (“Coisa Mais Linda”), um jornalista e escritor que enfrenta frustração profissional e bloqueio criativo. Ele se envolve com sua vizinha Marina, vivida por Roberta Ribas em sua estreia na atuação, uma garçonete e aspirante a atriz que, apesar de casada, mantém um relacionamento ambíguo com Paulo. Após uma sedução inicial no elevador, Marina o mantém emaranhado, embora também nunca tenha desistido do casamento. Preso no trabalho, no bloqueio criativo e nas garras de Marina, Paulo opta por cortar relações. Bêbado, ele grava uma despedida de amor e ódio em uma fita cassete para ela – ato que explica o título do filme.
O drama que explora as complexidades emocionais de um relacionamento extraconjugal e suas consequências tem direção da própria dupla de atores, que debuta na função, e venceu o FestCine Pedra Azul.
HOMENS DE BARRO
“Romeu e Julieta” LGBTQIA+, o drama que marca a estreia na direção da produtora Angelisa Stein (“Zama”) explora o amor proibido entre Pássaro Tamai e Ângelo Miranda, filhos de famílias rivais em uma pequena cidade. O filme aborda temas como desejo, culpa e identidade, destacando a tensão entre os protagonistas e os conflitos familiares que desafiam normas sociais e morais. A produção é uma colaboração entre Brasil e Argentina e o elenco principal destaca Gui Mallmann (“Anita”) como Pássaro e João Pedro Prates (“Domingo”) como Ângelo.
MADELEINE À PARIS
O documentário dirigido por Liliane Mutti explora a vida de Roberto Chaves, um artista brasileiro queer e andrógino, originário de Santo Amaro da Purificação. Roberto lidera o desfile afro-brasileiro “Lavagem de la Madeleine”, evento que se inspira na “Lavagem do Bonfim” e reúne cerca de 60 mil pessoas diante da igreja de mesmo nome na capital francesa há 20 anos. Ao mesmo tempo, à noite ele adota maquiagem drag e se transforma em Arlequim no cabaré “Paradis Latin”. O filme investiga como Roberto, filho de santo do Candomblé, navega entre o masculino e o feminino, o sagrado e o profano, unindo esses mundos distintos.