Está a nascer uma nova estratégia para fazer lóbi

Bruxelas é a segunda capital do mundo com maior número de lobistas a seguir a Washington: são 29 mil, movimentam 1,5 mil milhões de euros por ano e afetam 510 milhões de cidadãos. O lobbying – atividades para moldar decisões políticas de acordo com interesses privados – nas instituições da UE nunca foi tão sofisticado e bem financiado como hoje.

Utilizam inúmeras técnicas de persuasão, que vão desde reuniões presenciais a estudos encomendados. Os recursos e estratégias subtis levantam preocupações sobre a capacidade das instituições da União Europeia em resistir a este volume de pressão. Por exemplo, novos escritórios continuam a abrir em Bruxelas, como o think tank MCC, próximo do primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán.

O centro desta atividade, segundo o Corporate Europe Observatory, acontece num pequeno bairro onde a Comissão Europeia e o Conselho da UE estão rodeados pelos grupos de lóbi mais ativos em Bruxelas – tecnológicos, petrolíferas ou banca. No entanto, parece estar a emergir uma nova tendência. Reuniões de alto nível e networking estratégico, antes restritos a gabinetes, bares ou almoços caros, acontecem em clubes desportivos, onde o ambiente descontraído permite conversas informais.

O conceito de sweatworking, isto é, usar atividades físicas para construir ligações empresariais, está a tornar-se cada vez mais popular nos círculos de poder de Bruxelas. Lobistas, executivos ou jornalistas abraçaram essa tendência, e usam as sessões de exercício para fortalecer vínculos que muitas vezes são mais pessoais do que profissionais.

Por exemplo, iniciar uma conversa enquanto pedala na aula de spinning, ou durante uma partida de ténis, pode render resultados mais frutíferos do que uma reunião formal. A interação pode ser mais genuína e depois traduzir-se em vantagens comerciais. “Isto cria um vínculo que não é apenas profissional”, disse um executivo de vendas de uma empresa de comunicação social ao jornal Politico. “É muito melhor quando a pessoa não tem ideia do que eu quero vender”, acrescentou.

O Aspria Arts-Loi é um boutique club no coração do bairro europeu. “O networking não é novidade, mas está a crescer em clubes de luxo ou academias”, afirmou Brian Morris, fundador do Aspria, à mesma publicação. Segundo o responsável, muitos comissários europeus são presença regular nas aulas de ciclismo indoor.

Sanne Pieters, investigadora na Universidade KU Leuven, acredita que o sweatworking é eficaz porque “as pessoas assumem que, ao frequentar academias de alto nível, encontrarão pessoas com interesses semelhantes”. Pieters prevê que os executivos passarão cada vez mais tempo num único lugar, onde “podem trabalhar a forma física e a carreira”.

Em 2022, o escândalo Qatargate revelou problemas profundos nas instituições da UE com a detenção, em Bruxelas, de alegados corruptos e a apreensão de enormes somas de dinheiro, encontradas nas casas do antigo eurodeputado italiano Pier Antonio Panzeri e da grega Eva Kaili, então vice-presidente do Parlamento Europeu.

Os suspeitos aguardam decisão da justiça, mas as estruturas europeias têm em curso mudanças na regras de lobbying para evitar que o caso se repita. Será suficiente para impedir novos escândalos no futuro?