Em parceria com a UFMG, Receita Federal transforma mercadorias apreendidas em produtos com destinação sustentável

Em 2024, as apreensões no país chegaram a mais de R$ 3,5 bilhões. Uma parte desse material vai a leilão ou é doado. Mas têm mercadorias que não podem ser vendidas ou são impróprias para o consumo e precisam ser destruídas. Acordo entre UFMG e Receita Federal transforma mercadorias apreendidas em produtos sustentáveis Existem operações em que as autoridades destroem instalações e meios usados em ações criminosas. Mas há também os casos em que policiais e fiscais apreendem os bens, que podem adquirir outras utilidades, como está acontecendo em Minas Gerais. Um galpão da Receita Federal, em Belo Horizonte, está abarrotado. São produtos que não pagaram imposto ou que são proibidos no Brasil. Em 2024, as apreensões no país chegaram a mais de R$ 3,5 bilhões. Só em janeiro de 2025, já somam quase R$ 400 milhões. Uma parte desse material vai a leilão ou é doada. Mas têm mercadorias que não podem ser vendidas ou são impróprias para o consumo e precisam ser destruídas. Agora, alguns produtos estão ganhando uma destinação sustentável, em uma parceria da Universidade Federal de Minas Gerais e a Receita Federal. "Antes, nós tínhamos que contratar uma empresa, gastar dinheiro público para poder fazer a destruição. Com o passar dos anos, a Receita Federal vem aumentando a sistemática de parcerias e diminuindo a quantidade de produtos destruídos e reaproveitando, cada vez mais, para poder devolver isso para a sociedade”, afirma Michel Lopes Teodoro, superintendente da Receita Federal em Minas Gerais. O cigarro, que representa 50% das apreensões, é queimado e vira biocarvão - usado na agricultura. "Uma das vertentes é como condicionador dos solos. Então, ele vai melhorar as condições físicas e químicas do solo. No caso do uso para descontaminantes, ele pode descontaminar tanto áreas contaminadas de solos quanto de águas”, explica Fernando Colen, professor do Instituto de Ciências Agrárias da UFMG. Aparelhos piratas de canais de TV são transformados em computadores. "A gente retira o software legal. O software que permite roubar o sinal ou acessar conteúdo ilegal, e a gente coloca um outro software de aprendizado personalizado, cujo objetivo é destinar a escolas da rede pública”, diz Alexandre Rodrigues Mesquita, professor associado do Departamento de Engenharia Eletrônica da UFMG. Em parceria com a UFMG, Receita Federal transforma mercadorias apreendidas em produtos com destinação sustentável Jornal Nacional/ Reprodução Todo produto apreendido, antes de ganhar um novo destino, precisa ser descaracterizado. Esse é o primeiro passo da transformação - uma exigência da Receita Federal para que ele não volte ao mercado em sua forma original. Em um laboratório, por exemplo, o vinho sai da garrafa e vira matéria-prima para um novo produto: geleia de vinho. Depois de mais de um ano de testes, os pesquisadores desenvolveram dois sabores: doce e agridoce. "Coloca o vinho na panela com adição de açúcar, faz a redução desse vinho e depois acrescenta o que é o que vai transformar em geleia, que é a pectina. E aí faz a geleia e depois a gente envasa”, conta Verônica Ortiz Alvarenga, professora do departamento de Alimentos da Faculdade de Farmácia da UFMG. A ideia agora é que a universidade repasse a técnica desenvolvida em laboratório para pequenos produtores. E já tem comunidades interessadas, como uma em Moeda, a 60 km da capital. “A gente tem muitas geleias por aí, mas nós nunca vimos nada parecido. Então, a gente entrar com um produto que seja diferenciado, eu acho que a gente consegue um mercado muito melhor”, diz Aline Carvalho Coutinho, presidente da Associação de Agricultura Familiar de Moeda/ MG. "Quando a gente consegue transformar e ainda envolvendo a comunidade, trazendo o desenvolvimento regional, isso fecha o cenário de sustentabilidade. Então, eu acho que isso traz uma satisfação em termos de trabalho”, afirma Flávia Beatriz Custódio, professora do departamento de Alimentos da Faculdade de Farmácia da UFMG. LEIA MAIS: Ministério da Justiça discute mudanças nas regras para apreensão de bens de origem criminosa; veja principais pontos

Fev 8, 2025 - 02:54
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Em parceria com a UFMG, Receita Federal transforma mercadorias apreendidas em produtos com destinação sustentável

Em 2024, as apreensões no país chegaram a mais de R$ 3,5 bilhões. Uma parte desse material vai a leilão ou é doado. Mas têm mercadorias que não podem ser vendidas ou são impróprias para o consumo e precisam ser destruídas. Acordo entre UFMG e Receita Federal transforma mercadorias apreendidas em produtos sustentáveis Existem operações em que as autoridades destroem instalações e meios usados em ações criminosas. Mas há também os casos em que policiais e fiscais apreendem os bens, que podem adquirir outras utilidades, como está acontecendo em Minas Gerais. Um galpão da Receita Federal, em Belo Horizonte, está abarrotado. São produtos que não pagaram imposto ou que são proibidos no Brasil. Em 2024, as apreensões no país chegaram a mais de R$ 3,5 bilhões. Só em janeiro de 2025, já somam quase R$ 400 milhões. Uma parte desse material vai a leilão ou é doada. Mas têm mercadorias que não podem ser vendidas ou são impróprias para o consumo e precisam ser destruídas. Agora, alguns produtos estão ganhando uma destinação sustentável, em uma parceria da Universidade Federal de Minas Gerais e a Receita Federal. "Antes, nós tínhamos que contratar uma empresa, gastar dinheiro público para poder fazer a destruição. Com o passar dos anos, a Receita Federal vem aumentando a sistemática de parcerias e diminuindo a quantidade de produtos destruídos e reaproveitando, cada vez mais, para poder devolver isso para a sociedade”, afirma Michel Lopes Teodoro, superintendente da Receita Federal em Minas Gerais. O cigarro, que representa 50% das apreensões, é queimado e vira biocarvão - usado na agricultura. "Uma das vertentes é como condicionador dos solos. Então, ele vai melhorar as condições físicas e químicas do solo. No caso do uso para descontaminantes, ele pode descontaminar tanto áreas contaminadas de solos quanto de águas”, explica Fernando Colen, professor do Instituto de Ciências Agrárias da UFMG. Aparelhos piratas de canais de TV são transformados em computadores. "A gente retira o software legal. O software que permite roubar o sinal ou acessar conteúdo ilegal, e a gente coloca um outro software de aprendizado personalizado, cujo objetivo é destinar a escolas da rede pública”, diz Alexandre Rodrigues Mesquita, professor associado do Departamento de Engenharia Eletrônica da UFMG. Em parceria com a UFMG, Receita Federal transforma mercadorias apreendidas em produtos com destinação sustentável Jornal Nacional/ Reprodução Todo produto apreendido, antes de ganhar um novo destino, precisa ser descaracterizado. Esse é o primeiro passo da transformação - uma exigência da Receita Federal para que ele não volte ao mercado em sua forma original. Em um laboratório, por exemplo, o vinho sai da garrafa e vira matéria-prima para um novo produto: geleia de vinho. Depois de mais de um ano de testes, os pesquisadores desenvolveram dois sabores: doce e agridoce. "Coloca o vinho na panela com adição de açúcar, faz a redução desse vinho e depois acrescenta o que é o que vai transformar em geleia, que é a pectina. E aí faz a geleia e depois a gente envasa”, conta Verônica Ortiz Alvarenga, professora do departamento de Alimentos da Faculdade de Farmácia da UFMG. A ideia agora é que a universidade repasse a técnica desenvolvida em laboratório para pequenos produtores. E já tem comunidades interessadas, como uma em Moeda, a 60 km da capital. “A gente tem muitas geleias por aí, mas nós nunca vimos nada parecido. Então, a gente entrar com um produto que seja diferenciado, eu acho que a gente consegue um mercado muito melhor”, diz Aline Carvalho Coutinho, presidente da Associação de Agricultura Familiar de Moeda/ MG. "Quando a gente consegue transformar e ainda envolvendo a comunidade, trazendo o desenvolvimento regional, isso fecha o cenário de sustentabilidade. Então, eu acho que isso traz uma satisfação em termos de trabalho”, afirma Flávia Beatriz Custódio, professora do departamento de Alimentos da Faculdade de Farmácia da UFMG. LEIA MAIS: Ministério da Justiça discute mudanças nas regras para apreensão de bens de origem criminosa; veja principais pontos