“É ilegal aumentar taxas para pré-financiar o aeroporto de Alcochete”, diz CEO da Ryanair

O gestor deixou críticas à intenção da ANA aumentar as taxas aeroportuárias para pré-financiar o aeroporto de Alcochete. Defendeu também a abertura do aeroporto no Montijo em 2030 e considera que a ANA pode aumentar a capacidade do Humberto Delgado em 60% com melhorias no Terminal 1.

Fev 6, 2025 - 08:27
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“É ilegal aumentar taxas para pré-financiar o aeroporto de Alcochete”, diz CEO da Ryanair
O presidente da Ryanair voltou a criticar a aposta do Governo no novo aeroporto de Lisboa, que está a ser planeado para Alcochete.

“Porque é que Lisboa não pode ter três aeroportos? O Montijo poderia estar aberto e a receber passageiros em 4/5 anos. E teríamos assim a Portela, o Montijo e depois Alcochete, esta grande infraestrutura de estilo soviético. Decidir que todos vão para Alcochete em 2040 ou 2050 não é a melhor opção”, disse Michael O’Leary ao Jornal Económico, à margem da conferência de imprensa realizada em Lisboa na quarta-feira.

Sobre a atuação do Governo PSD/CDS ao fim de quase um ano no poder, afirmou que tem de tomar “decisões mais inteligentes”. “Apoiamos Alcochete ou um segundo aeroporto em Lisboa. Mas é triste pensar que só em 2040. Precisamos de uma solução até lá: primeiro, aumentar a capacidade na Portela, o que pode ser feito rapidamente; em segundo, abrir o Montijo”.

O gestor disse que já escreveu ao Governo oferecendo-se para dobrar o tráfego da Ryanair de 13 para 26 milhões de passageiros nos próximos 5/6 anos, se esta estratégia for adotada.

Questionado se considera que o Governo está a engordar a TAP para poder vendê-la por mais dinheiro, concordou. “Está tudo OK. Não tenho nenhum problema com isso. Penso que a maioria dos contribuintes portugueses quer que seja vendida, para não estarem a resgatá-la a cada 3/4/5 anos”.

“Mas as pessoas têm de perceber que, apesar de ser um alívio, significa que a TAP não vai crescer. Porque nem a Lufthansa, nem a Air France, nem a British Airways vêm para cá investir na TAP ou fazer o negócio crescer. Precisam de alguém para crescer: a Ryanair, que é a maior companhia agora em Portugal, e que tem aviões encomendados para os próximos 10 anos, o que vai permitir o crescimento, que está atualmente sujeito a restrições artificiais na Portela e a um atraso pelo projeto ridículo em Alcochete”, disse o gestor.

Michael O’Leary elogiou a postura do Governo e do ministro das Infraestruturas pela sua reação à intenção da ANA – Aeroportos de Portugal de aumentar as taxas aeroportuárias em 2026 para financiar a construção do novo aeroporto.

“É uma ideia ilegal a ANA aumentar as taxas para pré-financiar o aeroporto 15 anos antes de estar construído. Existem regras na Europa: só se paga pelas infraestruturas quando são utilizadas, não se paga 15 anos antes de estarem concluídas. Isto é absurdo. Mas isto é o que acontece quando se tem um monopólio dos aeroportos geridos por franceses”, afirmou, referindo-se aos franceses da Vinci, donos da ANA.

O ministério das Infraestruturas anunciou em meados de janeiro que pretende “rever e discutir o modelo financeiro, nomeadamente no que diz respeito aos pressupostos de alteração de taxas aeroportuárias, da extensão da concessão e da partilha de riscos”, afirmou a tutela de Miguel Pinto Luz, após analisar a proposta da ANA, que prevê o financiamento da obra através do aumento das taxas aeroportuárias e da extensão do contrato de concessão, que termina em 2062.

Sobre qual seria a melhor hipótese para a privatização da TAP, elogiou a IAG, mas destacou que este é um tema “politicamente sensível”.

“Não querem ser comprados pelos espanhóis, mas a IAG já tem uma grande operação para a América Latina em Madrid. Claramente, querem apresentar uma proposta. A TAP tem uma operação de muito sucesso para o Brasil em Lisboa; temem a transferência do hub para Madrid, mas isto nunca vai acontecer. Se olharmos para a forma como a IAG é gerida, fizeram um bom trabalho noutras companhias como a Aer Lingus”.

Em relação à expansão do aeroporto Humberto Delgado, defendeu que o Terminal Um pode sofrer melhorias para albergar mais 60% de passageiros. “Mas não há esse desejo por parte da ANA, que não quer aumentar a capacidade do terminal porque querem continuar a aumentar os custos. Mas isto é o que se tem quando se vende aos franceses: baixo crescimento e taxas elevadas”.