"Cristiano Ronaldo tem sido bafejado pela sorte de não ter lesões graves"
O antigo médico da seleção portuguesa Henrique Jones considerou que Cristiano Ronaldo, que cumpre 40 anos na quarta-feira, sempre privilegiou o trabalho extracampo e que foi sempre além do exigido a um futebolista profissional.
"O Cristiano sempre foi, desde os 17, 18 anos, em que eu comecei a trabalhar com ele e durante o tempo que estive na seleção, um rapaz de trabalho extracampo, ou seja, o trabalho neuromuscular, o trabalho de reforço muscular, o trabalho próprio dessa atividade. Ele sempre foi um indivíduo que trabalhou para além do que é normalmente exigido a um jogador de futebol", disse Jones, à agência Lusa.
Além deste trabalho, Henrique Jones lembrou a "extrema preocupação com a recuperação dos seus índices de fadiga" que Ronaldo tem, sendo igualmente "superpreocupado com a sua alimentação, com os fatores de suporte energético, com a suplementação, com tudo aquilo que lhe possa dar bem-estar para praticar o desporto que escolheu".
"Eu diria que o Cristiano trabalha sempre um pouco mais para além dos outros. E trabalha sempre, sobretudo, para superar a si próprio. E é por isso que ele continua a manter estes aspetos, estes índices físicos que fazem dele um atleta ímpar e um atleta invulgar nos tempos correntes. Obviamente nós sabemos que hoje em dia os atletas têm uma longevidade um pouco maior, mas o Cristiano procurou sempre, e procura atualmente, manter a sua forma através do seu trabalho", referiu.
Depois de ter começado a carreira como extremo, o madeirense tem fletido mais para o centro do terreno, com Henrique Jones a considerar Ronaldo "um atleta inteligente", além de ser, provavelmente, "o maior atleta de elite no futebol nos últimos anos".
"Ele neste momento consegue ter uma gestão do seu comportamento em campo, continuando a ser um atleta de alto rendimento e de utilidade à equipa que representa, mas ao mesmo tempo reconhecendo que já não tem as capacidades físicas que tinha há 10 anos. E esta gestão que ele inteligentemente faz, faz dele um atleta ainda muito útil em qualquer equipa onde esteja inserido", assumiu.
Questionado sobre uma previsão de quando Cristiano Ronaldo poderá colocar um ponto final na sua carreira, o antigo médico da seleção lembrou que "os atletas hoje gerem-se muito por sensações".
"Enquanto o Cristiano tiver a sensação de que é útil e que consegue cumprir os objetivos neste jogo que é o futebol, eu acho que ele vai continuar. [...] O Cristiano tem sido bafejado pela sorte de não ter lesões graves, e as que teve foram tratadas corretamente. Neste momento, em termos de longevidade, é difícil prever, porque a sensação que o Cristiano tem e aquilo que lhe dá prazer na vida é jogar futebol e é isso que ele certamente mais do que ninguém vai gerir", afirmou.
No final da última temporada, Pepe também deixou de jogar, aos 41 anos, e Henrique Jones lembrou que "hoje em dia as novas tecnologias de apoio aos atletas são muito importantes, mas os aspetos específicos do próprio atleta são, evidentemente, o fator mais importante na longevidade que muitos atletas apresentam".
"E o Pepe é um exemplo idêntico. Eu creio que o Pepe ainda poderia jogar ao mais alto nível, se calhar mais de um ano ou dois, mas enfim, foi a sensação dele e foi a altura que ele escolheu para terminar. Mas são dois aspetos diferentes. Nós sabemos que o Pepe teve durante a sua carreira algumas lesões graves, uma delas grave que superou fantasticamente, mas que deixam algumas sequelas em termos funcionais e que se calhar abreviaram o final da sua carreira, da sua brilhante carreira", considerou.
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